Instagram copiando do TikTok? Um breve apanhado histórico da plataforma através da lente da arqueologia das mídias.

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O Instagram vem sendo abordado aqui no TCAv em diversos momentos, desde a sua relação com os filtros, passando pela efemeridade das redes até uma análise sobre as imagens em crise, dentre diversos outros trabalhos que dialogam direta ou indiretamente a plataforma.

A pauta de hoje busca analisar uma atualização que está em fase de testes para ser implementada no aplicativo do Instagram. O incremento passou a ser assunto em diversos portais de notícias relacionados a tecnologia através de uma postagem feita no perfil pessoal de Adam Mosseri, chefe do Instagram.

Em um vídeo publicado na rede social, Adam compartilha algumas informações sobre a influência que o formato de vídeos verticais vem ganhando nas mídias sociais, apresentando de maneira bastante aberta e incitando a participação dos usuários para que tragam suas percepções sobre as mudanças.

Mosseri comenta que os vídeos passarão a ter um papel ainda mais importante na tela principal do aplicativo, tomando mais espaço vertical na interface. “[…] O futuro do vídeo e o futuro das imagens são mobile first, eles são 9×16, eles são imersivos […]” (Mosseri, 2022. Tradução livre).

Comunicado sobre as mudanças na plataforma Instagram. Fonte: Mosseri, 2022

A partir deste comunicado, diversos portais de notícias publicaram análises destas interfaces teste associando as mudanças à uma possível cópia por parte do Instagram da interface e funcionamento da plataforma TikTok. (Silberling, 2022), (Sato, 2022), (Dias, 2022).

Comparativo entre o novo feed do Instagram e o feed do TikTok. Fonte: (Dias, 2022).

A plataforma chinesa TikTok vem ganhando cada vez mais espaço na mídia e até mesmo no TCAv através das Audiovisualidades na Pandemia e trabalhos em desenvolvimento que abordam o aplicativo.

Desde seu surgimento, em 2016 até a crescente popularidade adquirida recentemente, o TikTok já consta entre as quatro redes sociais com mais usuários ativos no mundo, de acordo com a agência de pesquisa Kepios, sem considerar aplicativos de troca de mensagens. (DATAREPORTAL, 2022). Este crescimento parece estar despertando a atenção do Instagram, atual terceiro colocado em número de usuários ativos (DATAREPORTAL, 2022). De acordo com outra análise da mesma agência, o Instagram se mostra em um patamar estável, mas apresenta uma leve queda no alcance de publicidade. (Kemp, 2022).

As perspectivas mercadológicas levantadas aparentam ser alguns dos principais motivadores por trás dos testes que estão ocorrendo no feed do aplicativo.

Ainda que as notícias sejam um tanto tendenciosas ao enfatizar as disputas entre Instagram e TikTok, não é possível inferir quais movimentações de fato serão desdobradas no futuro da plataforma. No entanto, podemos encontrar evidências das diversas transformações pelas quais o aplicativo passou ao longo da sua história.

Interface do Instagram em seus anos iniciais. Fonte: (Sorrel, 2010)

O Instagram surgiu em 2010, exclusivamente para o iPhone, e na época se limitava a publicação de imagens quadradas, na resolução 640×640, com a possibilidade de aplicação de quatro filtros, chamados de Amaro, Rise, Hudson e Valencia, disponíveis até hoje. Em 2012 foi lançada uma versão para Android do Instagram, neste ano também aconteceu a aquisição do aplicativo pelo Facebook Inc, atualmente conhecido como Meta Platforms Inc.

Nestes 12 anos de desenvolvimento, a plataforma já passou por diversas transformações, dentre as diversas funções introduzidas no aplicativo estão a possibilidade de geolocalizar as publicações, inclusão de hashtags (#), permissão para imagens retangulares tanto em “retrato”, quanto “paisagem”, serviço de mensagens diretas, vídeos de até 15 segundos, posteriormente estendidos para até 1 minuto de duração, aba de explorar, além de incrementos visuais e de performance.

O Instagram passou inclusive por uma reformulação de marca, ao ter seu logo drasticamente modificado em 2016, simplificando a iconografia e apresentando um novo esquema de cores, mais vibrante.

Mudanças na marca do Instagram promovidas em 2016. Fonte: Divulgação/Instagram

Neste período, o Instagram passou a contar com os chamados Stories, função que permite aos usuários a publicação de vídeos ou imagens que “expiram”, ou desaparecem após 24 horas. E é a partir daqui que podemos observar algumas movimentações e posicionamentos que podem vir a se repetir na conjuntura atual.

Logo que os Stories foram introduzidos na plataforma, a mesma passou a ser criticada por diversos usuários ao remeter diretamente a funcionalidade oferecida pelo aplicativo Snapchat.

Comparativo entre as interfaces de Instagram e Snapchat. Fonte: Moore, 2016

Neste caso, a mídia também repercutiu as acusações e comparações entre as duas plataformas em diversos portais. (Newton, 2016), (Instagram, 2016). A repercussão foi tamanha, que na época, o então CEO do Instagram, Kevin Systrom, disse ao podcast Recode Decode:

“[…] o Instagram foi uma combinação do Hipstamatic, Twitter [e] algumas coisas do Facebook, como o botão ‘Curtir’” […] “Você pode rastrear as raízes de todos os recursos que qualquer pessoa possui em seu aplicativo, em algum lugar da história da tecnologia.”  (Johnson, 2017. traduzido do inglês)

Essa argumentação vai de encontro com a perspectiva proposta pela arqueologia das mídias, o campo de estudo que busca através de diversas metodologias escrever histórias alternativas para as mídias. Incorporando pioneiros, tendências ou tecnologias esquecidas. O grupo TCAv conta com diversas pesquisas que aportam sobre esta temática. Um dos autores expoentes é Erkki Huhtamo, pesquisador finlandês e coautor do livro Media Archeology.

Huhtamo também escreveu o artigo Elementos de Screenologia, onde parte de uma abordagem histórica para conceituar a importância das telas nas mídias digitais. E assim podemos perceber que o Instagram carrega consigo diversas características de outras mídias. Nas palavras de Erkki Huhtamo:

Por trás de fenômenos que à primeira vista parecem sem precedentes e futurísticos, encontramos padrões e esquemas que aparecem em contextos anteriores. Nesse sentido, os discursos sobre telas frequentemente evocam tópicos e fórmulas que derivam de repertórios culturais pré-existentes (ainda que isso não tenha estado sempre evidente aos próprios sujeitos culturais). (HUHTAMO, 2013).

Como vimos neste breve apanhado histórico a respeito das transformações do Instagram, as mídias digitais estão muito mais intrincadas do que aparentam em primeira análise, assim, acabam trazendo ferramentas e funcionalidades semelhantes.

Ainda que as razões para tais implementações muitas vezes acabem sendo relacionadas a perspectivas mercadológicas, a sua própria constituição e desenvolvimento se dá baseada em repositórios de códigos compartilhados, como o GitHub, por exemplo, onde os desenvolvedores compartilham trechos de códigos-fonte criados para as mais diversas aplicações, favorecendo que funcionalidades sejam “copiadas” com muito mais facilidade.

Nestes 12 anos de desenvolvimento, o Instagram passou por diversas modificações, partindo de um “Twitter com Hipstamatic” (Jonhson, 2017), até o estágio atual em que conta com funcionalidades de lojas virtuais. Analisando sua história, percebemos que a plataforma sempre buscou na incorporação de novas funções, maneiras de se manter relevante no meio digital.

Ainda que algumas das ações protagonizadas pelo Instagram possam ter se transformado em polêmicas, suas decisões parecem surtir o resultado esperado. Voltando no exemplo do Snapchat, a plataforma que teria “inventado” os Stories, apresenta números estáveis, mas não conseguiu superar os do Instagram, ficando em quinto lugar no ranking de plataformas digitais mais utilizadas no mundo, removendo os aplicativos de mensagens instantâneas. (DATAREPORTAL, 2022).


Texto: Gabriel Palma

Referências:

DATAREPORTAL. GLOBAL SOCIAL MEDIA STATS. [S.l], [S.D.]. Disponível em: https://datareportal.com/social-media-users. Acesso em: 20 jun. 2022.

DIAS, Vanessa. Testei o novo feed do Instagram antes do lançamento: Parece outro TikTok Vanessa Dias. Rock Content, [S. l.], 3 jun. 2022. Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/instagram-copia-tiktok/. Acesso em: 20 jul. 2022.

HUHTAMO, Erkki. Elementos de Screenologia: em direção a uma arqueologia da tela. Revista de Audiovisual Sala 206, Vitória, n. 03, p. 1-50, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/sala206/article/view/6228

INSTAGRAM copia Snapchat e lança Stories; posts apagam em 24 horas. In: TechTudo. [S.l], 2 ago 2016. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/2016/08/instagram-copia-snapchat-e-lanca-stories-posts-apagam-em-24-horas.ghtml. Acesso em: 20 jul. 2022.

JOHNSON, Eric. Did Instagram copy Snapchat? Not exactly, Instagram CEO Kevin Systrom says. Vox, [S. l.], 5 jun. 2017. Disponível em: https://www.vox.com/2017/6/5/15738276/instagram-snapchat-stories-copying-kevin-systrom-filters-facebook-snap-kara-swisher-decode-podcast. Acesso em: 20 jul. 2022.

KEMP, Simon. The Latest Instagram Stats: Everything You Need to Know. [S.l], 11 maio 2022. Disponível em: https://datareportal.com/essential-instagram-stats. Acesso em: 20 jun. 2022.

MOORE, Rachel. Snapchat Stories vs. Instagram Stories: Which Is Best for Your Content. Social Media Examiner, [S. l.], 23 ago. 2016. Disponível em: https://www.socialmediaexaminer.com/snapchat-stories-vs-instagram-stories-which-is-best-for-your-content/. Acesso em: 20 jul. 2022.

MOSSERI, Adam. ? Testing Feed Changes ? […]. [S. l.], 3 maio 2022. Instagram: @mosseri. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CdGwum5AWk7/. Acesso em: 20 jul. 2022.

NEWTON, Casey. Instagram’s new stories are a near-perfect copy of Snapchat stories. The Verge, [S. l.], 2 ago. 2016. Disponível em: https://www.theverge.com/2016/8/2/12348354/instagram-stories-announced-snapchat-kevin-systrom-interview. Acesso em: 20 jul. 2022.

SATO, Mia. Instagram is testing a TikTok-like full-screen feed. The Verge, [S. l.], 3 maio 2022. Disponível em: https://www.theverge.com/2022/5/3/23055496/instagram-full-screen-vertical-video-test-tiktok. Acesso em: 20 jul. 2022.

SILBERLING, Amanda. Instagram is testing a full-screen home feed. TechCrunch, [S. l.], 3 maio 2022. Disponível em: https://techcrunch.com/2022/05/03/instagram-test-full-screen-video-home-feed/. Acesso em: 20 jul. 2022.

SORREL, Charlie. Instagram for iPhone, Like a Lomo-Twitter for Your Photos. WIRED, [S. l.], 6 out. 2010. Disponível em: https://www.wired.com/2010/10/instagram-for-iphone-like-a-lomo-twitter-for-your-photos/. Acesso em: 20 jul. 2022.

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