Computadores em Chamas: a tecnocultura dos jogos em nuvem e sua interação metabólica com os sistemas terrestres

No dia 9 de novembro, às 19:30, tivemos o encerramento da 21° Semana da Imagem com a participação do egresso Dr. Eduardo Luersen com a palestra “Computadores em Chamas: a tecnocultura dos jogos em nuvem e sua interação metabólica com os sistemas terrestres”. O evento, mediado pelo professor Dr. Gustavo Fischer, ocorreu no formato online e foi transmitido pelo canal Youtube do TCAv. 

A apresentação de Eduardo faz parte da sua atual pesquisa de Pós-doc “Atlas dos jogos em nuvem: do metabolismo terrestre aos anseios por infraestruturas radiantes”, realizada no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Konstanz,  onde propõe construir um quadro epistemológico que conecte os estudos de mídia e sistemas terrestres compreendendo as implicações ambientais das plataformas que se baseiam serviços de nuvem, como exemplo, plataformas de jogos em nuvem. Para o pesquisador, há um ponto de encontro nessas discussões que são as infraestruturas das mídias, sendo um tema importante para os estudos da comunicação. 

Luersen busca nas perspectivas das infraestruturas uma forma de oferecer uma interpretação da “teia” mais complexa dos processos midiáticos e imaginários, mas também físicos que participam da circulação das plataformas que operam na nuvem. 

Com o objetivo de dar a ver a constelação material das plataformas em nuvem, na tentativa de discutir sobre os meios digitais como mediadores térmicos, o pesquisador propõe o exemplo Jogos digitais e Temperatura, contando experiências do jogar na sua juventude. Naquela época, lembra ele, como os consoles dos aparelhos como Playstation superaqueciam e causavam problemas, como o desligamento automático, eram comercializados cooler externos ou feitas “gambiarras” na tentativa de resfriamento do aparelho.  

Eduardo sinaliza a relação entre jogos e aquecimento na lembrança individual dele como jogador. Essa percepção o ajudou a levantar o primeiro ponto teórico da pesquisa, ao que se refere aos estudos das infraestruturas das mídias e onde a questão da escala tem uma importância significativa. Para tanto, busca em Edward (2003) a ideia de análise multi/escalar (Edwards, 2003), para propor um método preliminar para estudar as infraestruturas.

Dessa forma, a partir da escala, Luersen propõe pensar no que acontece quando o processamento e armazenamento de jogos não é realizado em aparelhos domésticos, mas em instalações como data centers e fazenda de servidores, trazendo como exemplo os jogos de nuvem. 

Um dos problemas encontrados nos jogos de nuvem é a latência causada pela distância física entre os servidores, sendo um dos principais desafios para a infraestrutura de jogos em nuvem. Assim, passamos a entender como é difícil implementar os jogos em nuvem como um serviço estável e confiável.

O pesquisador explica que solução encontrada é a distribuição dos data centers em diversos espaços do mundo. 

Porém, há o impacto ambiental mundial por conta do resfriamento dos servidores pela água, ou seja, muito desses servidores são construídos em espaços onde há água corrente, pois para a boa funcionalidade dos servidores, a sua temperatura deve ser mantida.

Além dessas infraestruturas necessárias para manter os datas center, há ainda a comercialização da troca de calor, o que as tornam um modelo de negócio que passa de um processo físico para um processo econômico. O calor gerado é então comercializado em mercado de energia, de carbono, de alimentos. 

Para o autor, aparentemente estas formas de aproveitar o calor são sustentáveis, porém, os efeitos do calor e a eliminação de gases em excesso aumentam o efeito estufa. Esse problema torna a infraestrutura dos jogos em nuvem aparentes, ou seja, materializa a infraestrutura dos jogos em nuvem e serviços streaming. 

Para finalizar, Luersen propõe refletir sobre a situação paradoxal das sociedades contemporâneas midiatizadas: “buscar caminhos para uma maneira sustentável de gerenciar recursos e, ao mesmo tempo, ampliar a exploração da Terra por meio de práticas e modelos que consomem mais energia exponencialmente.”, o que faz o pesquisador continuar discutindo sobre estes emaranhados ambientais, as plataformas de nuvem e os serviços de streaming. 

Texto – Flóra Simon da Silva