O telespectador usuário da Globoplay

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A discente Rayana Garay Cândido defendeu sua dissertação de Mestrado na última terça-feira, dia 23/04, às 14h, com a pesquisa intitulada “ENTRE TELESPECTADOR E USUÁRIO: CONTINUIDADES, RUPTURAS E TRANSFORMAÇÕES NA PLATAFORMA GLOBOPLAY EM UMA PERSPECTIVA DA TECNOCULTURA AUDIOVISUAL” em banca remota formada pelo orientador Prof. Dr. Gustavo Daudt Fischer (UNISINOS) e pelas avaliadoras Profa. Dra. Ana Paula da Rosa (UNISINOS) e Profa. Dra. Roberta Fleck Krause (ESPM-RS).

A pesquisadora iniciou sua defesa apresentando uma linha do tempo das plataformas digitais do grupo Globo desde a chegada da Internet até os tempos atuais, projetando para a TV 3.0, prevista para entrar em funcionamento a partir de 2025. Em paralelo, Rayana traçou o seu desenvolvimento como pesquisadora, desde a monografia até agora, acompanhando essas transformações.

Em seguida, foi apresentado o problema de pesquisa, culminando na proposta de entender de que maneira a relação tespectador-usuário se atualiza na plataforma Globoplay, tendo, como objetivo geral, mapear as transformações da plataforma no contexto da televisão e do mercado de streaming. Já os objetivos específicos giraram em torno de compreender os conceitos de audiovisualidades e televisualidades e como eles se articulam na relação telespectador-usuário, articular os conceitos de remidiação, usabilidade e design de interface com a memória televisiva, escavar atrás das transformações das plataformas de vídeo da Globo e, por fim, compreender como a Globoplay atualiza a relação tespectador-usuário através da memória televisiva.

Rayana, então, traçou diferentes hábitos desse telespectador, desde a época em que dependia da TV e do horário em que um programa ia ao ar, sem poder assisti-lo novamente, até o momento em que a smartização dos aparelhos e a plataformização dos conteúdos passou a tornar possível acessá-los a qualquer tempo e lugar. Como destaque, a pesquisadora trouxe o caso do capítulo zero da novela Totalmente Demais, de 2015, lançado na plataforma antes do lançamento em TV aberta.

A fundamentação teórica se dividiu em quatro blocos, inicialmente com os conceitos de tecnocultura e memória televisiva, a partir de Fischer (2013), Kilpp (2021) e Williams (2006), em seguida com o conceito de linha e superfície, a partir de Flusser (2002), com os conceitos de comunicação, plataformas e tecnocultura audiovisual, a partir de Luca (2011), Satuf (2020), Manovich (2013), Poell e Van Dijck (2020) e Sodré (2014), e finalmente com os conceitos de design de interação e inflexão do desig, a partir de Roger, Sharp e Preece (2-13), Benyon (2011), Nielsen (1993), Manovich (2001) e Cannito (2010).

Sobre a metodologia adotada, foi destacada a arqueologia das mídias e o procedimento de escavação, que buscou recuperar documentos históricos e acessar as diferentes interfaces da plataforma Globoplay ao longo dos anos. O primeiro momento foi o de utilizar o site wayback machine para dar a ver as fases pelas quais o grupo globo transitou para armazenar e exibir seus conteúdos online. O segundo momento foi o de relacionar esses materiais empíricos com as teorias e os autores estudados.

Rayana apresentou em imagens a sua metáfora do processo de escavação, destacando como as camadas do Design, Memória Televisiva e da Tecnocultura se sobrepõe diante da busca feita online, transbordando de uma para a outra.

Na camada do design foi possível perceber como a plataforma transitou entre uma estética de portal de notícias até o formato de streaming, atual. Na camada televisiva, Rayana procurou perceber as televisualidades, as características televisuais que restaram de uma fase para outra da plataforma. Já a camada tecnocultural é onde podem ser encontrados os conceitos trabalhados na pesquisa, em aplicação aos materiais empíricos destacados na plataforma.

Em seguida, Rayana lançou mão de um projeto experimental, onde observou os intervalos do programa “É de Casa”, transmitido aos sábados pela manhã, em aparelhos diferentes, sendo um dispositivo equipado com conversor digital e outro uma smartv, para tentar perceber os conteúdos que são exibidos em cada um, se há diferenças e continuidades entre um e outro.

Por fim, foram realizadas entrevistas com profissionais da Globo, de forma a perceber uma visão de negócio da plataforma.

Rayana encerrou sua apresentação projetando na TV 3.0, a ser lançada no próximo ano, os desafios para a plataforma Globoplay, bem como procurar antecipar as transformações que isso deve causar na relação entre a Glogo e o seu telespectador-usuário.

De forma geral, a banca ressaltou o aprofundamento da pesquisa desde a sua qualificação e as possibilidades deixadas em aberto para dar continuidade à problematização trazida por Rayana. Além disso, foi destacada a capacidade do trabalho em registrar as inúmeras transformações na plataforma Globoplay em um espaço tão curto de tempo e a importância de poder perceber isso como uma característica de uma tecnocultura onde a TV começa a perder sua centralidade, tentando se adaptar ao mercado digital.

Ficaram como sugestões um maior aprofundamento teórico e a publicação dos movimentos de “bastidores da pesquisa”, onde Rayana construiu, através de uma ferramenta virtual, diversas anotações que serviram para suas análises.

Ressaltando a importância de adicionar ao texto final as sugestões discutidas durante a defesa e reforçando a ideia de que Rayana siga construindo os próximos passos da análise aqui iniciada em novas pesquisas, a banca decidiu por aprovar a discente, concedendo a ela o grau de Mestra pelo PPGCC Unisinos.

Texto: Augusto Bozzetti.

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