Atualizações do construto de espectador nos serviços de vídeo streaming Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay: uma análise tecnometodológica

No dia 24 de agosto de 2023, às 14h, ocorreu a banca de defesa da tese de doutorado do discente Lucas Mello Ness, intitulada “Atualizações do construto de espectador nos serviços de vídeo streaming Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay: uma análise tecnometodológica”. A banca ocorreu no formato híbrido e foi composta pelos professores Dr. Maurício Augusto Pimentel Liesen Nascimento (UTP), Dr. Michael Abrantes Kerr (UFPEL), Dra. Cybeli Almeida Moraes (UNISINOS), Dr. Tiago Ricciardi Correa (UNISINOS) e Dr. Gustavo Daudt Fischer (Orientador).

Sobre a Pesquisa

A pesquisa de Lucas apresenta a emergência de como o serviço de vídeo streaming são elementos de pesquisa com uma grande potência. Ainda que contendo inúmeros elementos dentro desses serviços que poderiam vir a ser objeto de pesquisa, em sua tese, o discente observa as plataformas da Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay, interessado, especialmente, na figura do espectador e em especial a relação que existe daquele que assiste com o que é assistido.

Ainda que o modelo de streaming coloca o exibidor, distribuidor e produtos em tensionamento ao que se refere ao modo de se relacionar com o consumidor final, o modo com o qual o espectador experiencia e consome o conteúdo é uma questão muito importante. A experiência do espectador reúne não apenas a percepção do conteúdo, mas também a técnica envolvida para que se possa ter acesso àquilo que se assiste. Para Lucas, é dessa fluência que o espectador terá a noção dele com um papel de articulador e de que maneira isso irá se manifestar através das materialidades.

Um dos exemplos que o discente apresenta é um de seus achados ao longo da pesquisa: o Telecolor, uma película que se colocava em frente da televisão preto e branco para dar cor à imagem. Aqui, como Lucas observa, temos a presença de um espectador que articula e se sente apto a mexer naquele aparato, onde pode tocar de tal modo que é possível colocar um elemento não canônico que não está no manual de instruções sobre a tela. Com isso, passamos a influenciar, também, na forma como é visto a televisão/a imagem na tela. São algumas das pistas que foram se apresentando para Lucas, em como o espectador sai da ideia genérica que se tinha de passividade.

Em sua pesquisa, Lucas parte da proposta de Bergson, partindo da sistematização de Deleuze, onde temos a compreensão da virtualidade, dessa potência, desse devir que se atualiza e se manifesta em uma materialidade. É nesse atravessamento mútuo que se dá o encontro da realidade. A partir dessa perspectiva, o discente constrói o seu problema de pesquisa: “Como o construto de espectador se atualiza nesse serviço de vídeo streaming?”. Somando a esta visada, é apresentada a noção de tecnocultura, onde se compreende a indissociabilidade entre a técnica e a cultura – onde ambas se transformam mutuamente.

Em seu escopo teórico, o discente inicia por uma abordagem teórica do construto de espectador, do que seria essa virtualidade, onde convoca autores como Arlindo Machado, Vilém Flusser e Jonathan Crary. Na sequência, adentramos na compreensão dos serviços de vídeo streaming enquanto dispositivo (Foucault e Agamben; Deleuze, Guattari e Parente; Braga): em função de inúmeros e distintos elementos que compõem cada um desses serviços, não temos apenas um catálogo e não é apenas o software que o espectador utiliza. Temos a relação nas redes sociais, as quais também compõem esse serviço, essa materialidade, onde se atualiza o construto de espectador. Avançando, Lucas apresenta a questão da prática de telas, sendo este o vínculo entre o espectador e a materialidade audiovisual, somando a perspectiva da arqueologia das mídias.

Outro perspectiva que compõe sua pesquisa é o da tecnometodologia, em função de sua visada técnico-cultural a qual o discente precisava propor, além de buscar por metodologias que pudessem compreender e abarcar essas perspectivas que pudessem ser suficientes para analisar as propriedades. Por fim, são apresentadas as materialidades do serviço de vídeo streaming, onde emergem as atualizações propostas no seu último capítulo, apresentando as três atualizações que o discente propõe e que ficaram mais evidentes nesse processo: espectador coletivo (a possibilidade de assistir junto, no mesmo momento, uma organização conjunta e o poder de agregar entre os seus espectadores), espectador ordinário (quando o serviço de streaming deixa de ser algo diferente e passa a ser comum) e espectador protagonista (o espectador assume o seu papel de relevância dentro daquele dispositivo/sistema, não aceitando o papel que é colocado para ele pelo serviço buscando se movimentar e possibilitar mudanças a seu favor).

A Banca

Para a banca, dentre os diversos apontamentos e provocações, a tese apresenta uma escrita clara, uma boa apresentação do objeto empírico e apresenta um debate emergente e ambicioso para o campo. Além disso, é reconhecido o amadurecimento e a evolução da pesquisa desde a etapa de qualificação, especialmente dentro da proposição das categorias/atualizações. Houve destaque para os procedimentos técnico metodológicos inventados para dar conta da pesquisa e seus objetos empíricos, sendo possível perceber o quanto o estudo avançou acerca do tema proposto e o que se pretendia investigar na tese.


Texto: Camila de Ávila

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