•Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: Teleaudiovisualidades do debate eleitoral nas eleições para presidente de 2018
Nível: Doutorado
Autor: Amaury Silva
Ano de defesa: 2021
Orientadora: Dra. Sonia Estela Montaño La Cruz
Tags: teleaudiovisualidades, tecnocultura, debate eleitoral, comunicação audiovisual
Link da Tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/9778
Amaury Silva é doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Atualmente é juiz de direito no Estado de Minas Gerais e Professor da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce (graduação e pós-graduação).
Em sua tese, Amaury propõe o estudo sobre os debates eleitorais para presidente a partir das lógicas dos mundos televisivos. Considerando a pesquisa dentro do campo da comunicação, seu objeto empírico – o debate eleitoral das eleições presidenciais em 2018, no Brasil, realizado em 04/10/2018, pela TV Globo – foi escolhido como território teleaudiovisual, compreendido a partir da forma que a TV opera segundo o estágio atual da técnica.
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Dado o conceito de teleaudiovisualidades, inspirado em Kilpp (2018), percebeu ao longo da pesquisa que a atualização das (tele) audiovisualidades do debate eleitoral poderia ser visto como um movimento contínuo das imagens do debate eleitoral entre a emissora de TV e as redes (materiais midiáticos de debates anteriores ao de 2018, apropriações do debate nas redes sociais, outras emissoras que dão sentido ao debate, aos candidatos).
Propôs então como procedimento metodológico a cartografia e as molduras (Kilpp, 2003), por ser, para o egresso, um processo desconstrutivo que visa incluir outras metodologias. Esse procedimento permitiu cartografar territórios de experiência e significação na busca pela montagem dos debates entre mídias/mundo teleaudiovisuais – TV, ambientes de rede, como Twitter, Youtube, Instagram e Facebook – dadas as apropriações possíveis do debate para além da TV.
A fim de formar o corpus da pesquisa, o primeiro experimento metodológico da tese foi o procedimento cartográfico que resultou no mapeamento de um conjunto de debates eleitorais presidenciais de 1989 a 2018. Esse primeiro contato com os materiais permitiu a escolha do corpus: o debate das eleições de 2018. Esse material foi considerado o mais rico para produção da tese, pois, dado o conceito de contemporaneidade de Agamben (2009) Amaury poderia perceber “todos os debates anteriores e os construtos teleaudiovisuais de debate como programa televisivo fora do debate” (Silva, 2021).
Definido o corpus da pesquisa, deu continuidade à metodologia primeiro espectando o material escolhido com áudio e depois sem áudio diversas vezes, seguido pela realização da dissecação de imagens (KILPP, 2005) a partir da sua captura por frame, a fim de perceber suas molduras. Para fechar o procedimento, retornou os materiais ao fluxo regular do vídeo.
“A origem do material consistiu em gravação audiovisual feita pelo próprio pesquisador, diretamente da apresentação do debate eleitoral de 04 e 05/10/2018 pelo canal aberto da filiada da TV Globo em Governador Valadares/MG, ou seja, a InterTV dos Vales, Canal 11, bem como repositório que contém a integra do debate na plataforma (g1.com.br) e pela observação e captura de telas de interfaces de diversas redes durante o período de debates”.
Dado o processo cartográfico envolvendo os materiais extraídos da TV e das redes sobre o debate de 2018, passou à dissecação das imagens junto à metodologia das molduras onde percebeu que as televisualidades da contemporaneidade se atualizavam. Ao agrupar e reagrupar os materiais de diversas formas, buscando relações entre eles, percebeu quatro grandes molduras que se desdobraram em molduras específicas que deram sentidos às teleaudiovisualidades do debate eleitoral.
A primeira grande moldura foi denominada de molduras normas, que têm sentidos jurídicos e modos de buscar igualdade. Esta moldura se desdobra em molduras específicas como as normas jurídicas/ normas do debate/sorteio/ direito de resposta/ réplica/tréplica/horário gratuito de propaganda eleitoral.
Uma das molduras específica trazida na tese pelo pesquisador foi a da legislação eleitoral que moldura a realização dos debates televisivos. Ela pode ser percebida pela moldura amarela, desenhada por Amaury nas figuras abaixo, da intérprete de Libras. Na primeira imagem é percebida uma moldura de Libras segundo as técnicas e estéticas da TV Globo.
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Na segunda imagem vemos novamente a moldura que destaca a intérprete de Libras, agora ao lado do presidente já eleito em sua casa. Para o pesquisador, esta moldura é própria das redes sociais, produzidas por um celular e reforçam os sentidos de inclusão, assim como na primeira anterior.
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A segunda grande moldura apresentada na tese foi a moldura de tempos teleaudiovisuais, vistas a partir de software, hardware, dos compartilhamentos e mobilidades e do tempo televisivo sob controle: fala do candidato e intervalo comercial. Como exemplo, é apresentado na tese o tempo televisivo moldurado pela marcação do tempo de fala de cada candidato e do tempo do comercial que é delimitado pela fala do apresentador, como Amaury destaca na imagem abaixo.
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Essa moldura também é vista a partir do cronômetro que mede o tempo, visto pelo espectador em formato regressivo a partir dos últimos 10 segundos de tempo, destacado na imagem que segue.
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Para Amaury, há também o tempo de televisualidades que é móvel e instantâneo segundo apropriações de imagens do debate. A partir da funcionalidade de softwares, permite mudar uma legenda, mixar duas imagens ou mesmo inserir ruídos na imagem e devolvê-las ao fluxo de compartilhamento nas redes, como é possível ver na imagem abaixo.
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A terceira moldura percebida por Amaury é a moldura dos espaços teleaudiovisuais dado pelo cenário da emissora, a TV Globo. Como espaço institucional ela também dura em apropriações feita por outras emissoras e nas redes, por isso, refere-se também a outras interfaces gráficas do usuário. Na imagem abaixo, Amaury percebe o uso do enquadramento geral do cenário de disputa do debate, dando a ver uma arena – uma moldura televisiva de disputa e do jogo evidente e predominante – vista a partir das eleições de 2002 e que permaneceu nos anos posteriores, presente também no debate do ano de 2018.
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“O cenário redondo com uma mesa transparente que coloca frontalmente dois adversários com um microfone cada um reafirma os sentidos da política e da disputa eleitoral como um enfrentamento entre dois, um certo imaginário do espaço de luta, o ringue, onde acontece o boxe e outras formas de enfrentamento”.
A quarta moldura foi denominada de moldura das personas teleaudiovisuais. Para Amaury, pensando teleaudiovisualmente, o debate eleitoral tem algumas personas que molduram e que são molduradas pelo debate: os candidatos, os usuários das redes, os repórteres e os apresentadores. O apresentador, aqui trazido como exemplo de figura moldura do debate, é visto a partir da persona de William Bonner, que passa de apresentador do Jornal Nacional para mediador do programa de debate eleitoral, onde garante a democracia e liberdade de expressão dos candidatos, dado as estéticas da Rede Globo.
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Foi a partir desse experimento tecnometodológico que partiu da cartografia dos debates eleitorais à dissecação das imagens que foi possível descobrir estas molduras, que por sua vez deram a ver os sentidos das televisualidades no debate eleitoral de 2018.
Texto Flóra Simon da Silva
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