#TecnometodologiasTCAv: PERSONA-LIZAÇÃO

  • Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.
Título do trabalho: PERSONA-LIZAÇÃO: Personas e experiências tecno-imaginativas contemporâneas
Nível: tese de doutorado
Autor: Flavia Xavier Barros
Orientador: Profa. Dra. Estela Montaño La Cruz e Profa. Dra. Ana Paula da Rosa (Co-orientadora)
Ano de defesa: 2019
Link da tese: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/9779

Flavia Xavier Barros é graduada em Publicidade e Propaganda pela Universidade Católica de Pelotas (1998), tem especialização em Design Gráfico pela Unisinos (2002) e é Mestra (2002) e Doutora (2021) em Ciências da Comunicação também pela Unisinos. Integrante do Grupo de Pesquisa TCAv, a pesquisadora é também sócia-proprietária da Agência de Publicidade Outra Comunicação e tem como foco de interesse temas como propaganda, publicidade, design, criatividade, mídia, tecnologia e imagens técnicas.

Em sua Tese de Doutorado, intitulada “PERSONA-LIZAÇÃO: Personas e experiências tecno-imaginativas contemporâneas”, defendida no ano de 2021, sob orientação da professora Dra. Estela Montaño La Cruz, com co-orientação da Profa. Dra. Ana Paula da Rosa, Barros propõe investigar as imagens que surgem na tela do smartphone como resultado de processos identificados como tecno-imaginativos e que dão a ver aquilo que sua pesquisa vai chamar de imagens de persona-lização. Interessam aqui as lógicas digitais e os aspectos que possibilitam esse fenômeno tecnocultural imagético contemporâneo que produz personas.

O caminho metodológico construído durante a pesquisa partiu da Intuição, com base em Bergson e na aplicação da estrutura de misto proposta por Deleuze, somando-se à ideia de cartografar os objetos conforme propõe Kastrup, ao selecionar os materiais empíricos através de capturas de telas feitas com o smartphone para, finalmente, a partir do paradigma indiciário de Ginzburg, acessar as engrenagens algorítmicas que desvendam as camadas invisíveis na constituição das imagens de persona-lização.

Problematizando o smartphone

Sob o ponto de vista tecnometodológico, ou seja, de um agir mais laboratorial sobre as materialidades da pesquisa, é interessante perceber como a pesquisadora problematizou o smartphone enquanto aparelho em si, reconhecendo no design que dá forma ao produto, mas que também culmina nos softwares que o operam e, claro, nas imagens que ali se formam, construindo seu corpo empírico a partir de prints de tela, ou seja, imagens capturadas com o seu próprio aparelho, um iPhone 7 Plus com sistema iOS. Foram examinados 4 aplicativos diferentes, o Google App, o Facebook, o Pinterest e o Linkedin, todos, obviamente, em suas versões mobile, onde, ao final, foi possível identificar as diversas camadas que agem na construção da persona-lização: dispositivo, design, usuário, algoritmo e experiência.

Na figura acima, é possível ver como o Google App é exibido na App Store. Os prints estão em ordem de rolagem e mostram como o aplicativo se apresenta e procura seduzir o usuário ao seu mundo.

Em um segundo momento, foram capturadas imagens geradas a partir do uso do aplicativo já instalado, no qual a pesquisadora havia se logado. Ao comparar as imagens, é possível perceber mudanças sutis de layout que trazem indícios de atualizações não só do aplicativo em si, mas também do sistema operacional do aparelho, o que faz retomar a importância de um método que põe no centro da problematização os próprios meios (neste caso, um modelo de smartphone específico) através dos quais os objetos são acessados.

Após testar uma série de formas de acessar o aplicativo, bem como perambular pelos caminhos possíveis em sua navegação, Barros tratou de expor as camadas que compõem as imagens se utilizando dos indícios que restam em tela. Em azul, marcou a presença do dispositivo, em roxo, a atuação do algoritmo, em vermelho, a constituição dada pelo usuário e, em amarelo, a manifestação da camada experiência.

Movimentos semelhantes foram feitos no decorrer da investigação nos demais aplicativos citados, como Facebook, Pinterest e Linkedin. Ao reconhecer indícios das diversas camadas propostas pela tese, a pesquisa tratou de trazer à tona camadas invisíveis e inacessíveis, mas que, a partir deste tecnométodo, se tornaram aparentes. E é com base nessas camadas que foi possível identificar de que forma se constrói a persona-lização, o fenômeno imagético que se produz na tecnocultura contemporânea e que lida com a subjetivação de usuários de forma rotineira e cada vez mais presente, entendendo que a mobilidade alcançada pelo telefone incide aí direta e irreversivelmente.

Texto: Augusto Bozzetti
Revisão: Gabriel Palma

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