TCAv Indica – Do filme silencioso às buscas na web: montagens e poder de verdade

Nesta edição do TCAv Indica, apresentamos o artigo Do filme silencioso às buscas na web: montagens e poder de verdade, da doutoranda Simone Barreto de Almeida publicado em setembro na PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM, V. 6 N. 11 (2022). O trabalho busca analisar as imagens fílmicas do dito cinema silencioso feito na Amazônia conforme seus arquivamentos em sistemas de busca na web, tentando compreender como as imagens da memória do primeiro cinema são reconhecidas pelos buscadores e remontadas sob a lógica de um arquivamento em banco de dados em rede, levando em conta que esse procedimento permite identificar uma forma de poder de verdade. A pesquisadora utiliza como objeto o filme No Paiz das Amazonas (1922), do fotógrafo e cineasta luso-brasileiro Silvino Santos.

O filme em questão mostra os campos de forças que o produziram na época e ajuda a pensá-lo como audiovisual nas plataformas atuais, que o mantêm como memória e montagens em diversos arquivamentos, como na fotografia, no cinema, no vídeo e na web. A proposta metodológica escolhida consiste nos usos da cartografia e da arqueologia, incluindo os procedimentos de desmontar e inventariar. A autora justifica a aplicação desse arranjo e pontua que os buscadores não são apenas ferramentas, mas “tecnologias mudando sua própria forma de agir em tempos muito curtos e provendo transformações profundas no que, em um primeiro momento, pareceu apenas tratar de pesquisa e hoje é responsável pela conectividade de processos, sistemas, mundos.” (BARRETO, 2022, p. 121)

Após, Simone contextualiza brevemente o cenário econômico e cultural do estado do Amazonas na transição entre os séculos XIX e XX, destacando a trajetória da popularização do cinema no estado e a biografia de Silvino. Segundo a pesquisadora, o filme foi usado como discurso nacionalista e estabelece uma leitura de região e país da época: “A obra de Silvino é pensada como o retrato imagético da geografia de uma região, no registro da vida social e das atividades econômicas” (BARRETO, 2022, p. 126).

Então, a autora comenta sobre o poder de verdade, termo desenvolvido por Foucault que contempla o arquivamento que continua se apresentando e tendo relevância atualmente, e complementa: “Nossas formas de produzir e consumir produtos audiovisuais pedem um olhar comunicacional crítico voltado aos sentidos estéticos, éticos e políticos existentes nas práticas de arquivar pelas e nas mídias, pede o ato de confrontar os padrões hegemônicos tão comumente impostos pelas mídias globais em seu poder de verdade” (2022, p. 126).

No artigo, Simone também conta que Silvino Santos foi redescoberto no final dos anos 60 e que em 1980 No Paiz das Amazonas foi restaurado, gerando uma montagem sonorizada das imagens. Além disso, ao ser carregado no YouTube, o filme sofreu ainda novas montagens por ele também ser desmembrado em trechos de vídeos na plataforma. Assim, as novas montagens adicionam novos elementos aos filme, o que vai ao encontro do conceito de cinematismo proposto por Eisenstein, que acredita na existência de outros filmes dentro de um mesmo filme. Assim, a pesquisadora volta a falar do banco de dados como crucial no agenciamento de sentidos, no caso, nas novas mídias:

“As formas culturais implicadas pelo banco de dados são de operações de montagem realizadas principalmente pelo computador nas práticas de colar, recortar, montar e distribuir em rede, não como simples operações técnicas, e sim que elas agem de tal forma em nossas rotinas que interferem em nossa maneira de perceber e interagir com o mundo” (BARRETO, 2022, p. 128)

Por fim, Simone apresenta uma breve cartografia de seus arquivamentos com a imagem da coleção montada pelo banco de dados na plataforma de buscas Google, considerando suas múltiplas funções que são capazes de reorganizar o arquivamento fílmico e ressignificar as discursividades das materialidades audiovisuais, destacando a relação homem-máquina-programação.

Para ler o artigo na íntegra, acesse o link: https://fapcom.edu.br/revista/index.php/revista-paulus/article/view/465

Texto: Ananda Zambi

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