“Ver e Praticar a Visão Computacional”: Entrevista com Bruno Moreschi

Bruno Moreschi é pesquisador e artista visual, com pós-doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), doutor em Artes pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com passagem na University of Arts of Helsinki (Kuva Art Academy). É pesquisador sênior do Center for Arts, Design, and Social Research (CAD+SR) e integrante do projeto Decay without mourning: future thinking heritage practices. Suas pesquisas estão relacionadas à desconstrução de sistemas e à decodificação de procedimentos e práticas sociais nos campos das artes, museus, cultura visual e tecnologia. Teve projetos reconhecidos por bolsas, exposições e instituições como ZKM, Van Abbemuseum, 33ª Bienal de São Paulo, Prêmio Rumos, Funarte, Fapesp, Capes, Universidade de Cambridge e Bauhaus Fellowship.

O pesquisador concedeu uma entrevista à Aline Corso, doutoranda e integrante do TCAv, antecipando alguns pontos de sua fala de hoje na 20ª Semana da Imagem, intitulada “Ver e Praticar a Visão Computacional”.


O que você pode nos antecipar sobre a sua palestra “Ver e Praticar a Visão Comunicacional”?

Minha intenção é jogar justamente com a ideia de “ver” e “praticar” para entender de uma maneira aprofundada a visão computacional, como sugiro no título. Minha tese é que não é suficiente apenas nos atermos nas definições mais tradicionais dos conceitos relacionados a esse subcampo da Inteligência Artificial, tampouco apenas relatar as aplicações de suas ferramentas e sistemas. É necessário entender a visão computacional como um conjunto de práticas que envolve, sim, máquinas cada vez mais potentes e assertivas, mas também camadas humanas que incluem trabalhadores remotos invisibilizados e replicações de usos já históricos da imagem e da visão. Ver essas práticas é entender a visão computacional para além de um automatismo mágico que muitas vezes marca o discurso simplista e publicitário da tecnologia contemporânea hegemônica.

Entre os temas que mais lhe chamam a atenção atualmente estão a desconstrução de sistemas e a decodificação de procedimentos e práticas sociais nos campos das artes, museus, cultura visual e tecnologia. Na sua opinião, quais são os desafios da pesquisa em comunicação atualmente para debater esses temas?

Os desafios são inúmeros. Mas um dos principais talvez seja conseguir estabelecer uma pesquisa em comunicação nesses campos que perpassa as convenções e discursos oficiais que tanto marcam espaços institucionalizados como esses. Como praticar a pesquisa em comunicação em um museu ou em um espaço de tecnologia que consiga não apenas potencializar a visibilidade de agentes já legitimados como curadores, artistas, engenheiros e programadores? Como criar metodologias que consigam evidenciar e valorizar uma série de atuações e compreensões de outros sujeitos que estão nesses campos, mas não são considerados? Muitas vezes, campos específicos da arte e da tecnologia como a História da Arte e as Engenharias não conseguem criar essas escutas e diálogos por conta de suas fortes especificidades. Colocar esses sistemas fechados e muitas vezes opacos para o campo da pesquisa em comunicação pode ser fundamental para complexificá-los.

Para você, quais são as principais contribuições da IA na mudança da nossa forma de ver e estudar as imagens?

Hoje não vivemos mais em um mundo apenas da reprodutibilidade técnica, mas também da padronização algorítmica. Isso pressupõe que o estudo da imagem é também o estudo de dados, de suas escalas e de possíveis metodologias para dar conta de ver essas imagens para além de seus discursos visuais mais aparentes. Isso não é pouca coisa.

Por fim, gostaríamos de saber qual a influência dos autores mais “caros” à nossa linha de pesquisa, e consequentemente ao TCAv, como Henri Bergson, Walter Benjamin, Vilém Flusser, por exemplo, nos objetos que você tem pesquisado recentemente?

Todos esses nomes são importantes para a discussão que proponho, claro. Mas Vilém Flusser talvez seja o mais “caro” na minha opinião, especialmente por propor uma prática atuante diante de sistemas de tecnologia e de informação fechados. É a partir dele que é possível entender as potencialidades de atuar nos dispositivos e transformá-los. Posso também fazer uma relação dessa prática proposta pelo Flusser com a ideia de materialização da tecnologia contemporânea. Materializar, dar nomes, tocar, transformar os elementos da tecnologia é enxergar seus conceitos, incluindo a própria ideia de imagem, para além de algo etéreo, uma vista de lugar nenhum.


Lembramos que a 20ª Semana da Imagem na Comunicação acontece entre os dias 07 e 10 de novembro, das 17h às 19h30, com transmissão via Zoom e em nosso canal do YouTube (para saber mais, confira o nosso release completo). O evento é gratuito.

Texto: Aline Corso.

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