No dia 7 de novembro de 2022 às 17h teve início a vigésima edição da Semana da Imagem na Comunicação. O evento adotou o tema “Audiovisualidades da tecnocultura” e o primeiro dia de programação trouxe para mesa de abertura a interessante perspectiva do professor Dr. Peter Krapp (UCI) com a palestra “Is the internet a museum of computing?
O professor Dr. Gustavo Fischer fez a fala de abertura, contextualizando a importância do evento para o grupo de pesquisa Audiovisualidades e Tecnocultura: Comunicação, Memória e Design (TCAv), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (PPGCC/Unisinos). A mesa se deu no formato on-line e contou com transmissão simultânea através da plataforma Zoom e do canal do TCAv no YouTube.
Peter Krapp, que está na Alemanha no momento como parte de sua pesquisa, é professor de Estudos de Cinema e Mídias na Universidade da Califórnia Irvine e suas principais publicações incluem “Medium cool” (2002), “Deja vu: Aberrations of cultural memory” (2004), “Noise channels: Glitch and error in digital culture” (2011) e “Handbook language – Culture – Communication” (2013). Ele é parceiro do TCAv e já participou da Semana da Imagem em 2018 e 2020. Nesta edição, buscou apresentar e questionar os estudos que mostram a internet como a maneira mais adequada de reunir, consultar, comemorar e musealizar o que sabemos sobre computação.
Já na abertura, Krapp descreveu a importância da internet para a civilização contemporânea, uma vez que nunca se registrou tanto do mundo. Seguindo essa lógica, não seria possível estudar a história do mundo no final do século XX e início do século XXI sem recorrer aos registros dispostos na rede, já que cada vez mais os materiais comumente utilizados para referenciar, como notícias, correspondências e registros públicos, por exemplo, estão arquivados na internet.
Para o professor, a pandemia de Covid-19 não apenas provocou um aumento de visitantes on-line nos sites dos museus, mas os próprios museus responderam expandindo suas ofertas na Internet, e isso reacendeu os questionamentos a respeito de como podem funcionar essas instituições voltadas para a rede.
Peter também trouxe problemáticas acerca da própria rede mundial de computadores, pensando em qual história a história da internet conta. Além de inquerir até que ponto os museus de história do computador podem realmente fazer justiça à história do computador. Partindo de máquinas analógicas e digitais antigas à criação de redes descentralizadas até o surgimento da internet comercial.
Para Krapp, o computador redefiniu o sentido de memória, dessa forma, o próprio conceito de museu tradicional precisa ser repensado para abordar a internet. Compreender o que há de novo sobre como os museus operam dentro das redes significa olhar para os meios técnicos de organizar as mesmas, uma vez que a internet contrasta com as redes anteriores centradas em ferrovias e navegação, telegrafia e telecomunicações e as formas de conhecimento que elas interconectam.
Ainda em sua apresentação, o professor comenta que a história do computador era bastante marginal até recentemente, e os museus de computação são um fenômeno ainda mais novo. A maioria dos museus de informática só abriu na década de 1990. Peter questiona por que isso acontece na década anterior ao final do século XX? Seria uma coincidência que isso também ocorreu quando a internet foi privatizada e rapidamente se tornou onipresente?
Na mesma linha, os museus de história do computador são muito menos propensos a tematizar software de código aberto, hackers ou ativismo de computador, preferindo focar em uma versão higienizada da história, agradando aos patrocinadores corporativos.
Antigamente, não se sabia que teríamos apego as máquinas e aos computadores, o que era guardado eram ideias. As primeiras coleções e exposições de história do computador começaram como coleções pessoais e particulares, que são diferentes de museus.
Estudiosos de museus têm se perguntado se as novas mídias e a internet parecem implicar novos modelos epistemológicos e estéticos que têm mais em comum com os gabinetes de curiosidades particulares (Wunderkammers) dos séculos XVI a XVIII do que com o estilo de museu público do final do período vitoriano.
No entanto, se um museu é definido como uma instituição que coleta, documenta, preserva, exibe e interpreta evidências e contextos para torná-los amplamente acessíveis, então, sem dúvida, a internet veio para simular essas funções. Até que os museus reconfigurem suas formas de abordagem, a própria rede de computadores serviu como forma de retenção histórica.
Porém, manter a história oral, do hardware e do software tem se mostrado como uma tarefa bastante difícil. Para contornar essa situação, os museus de informática contam com réplicas de hardware e software emulado, simulando o patrimônio que eles curam. E aí chegamos a outro problema, num museu web não podemos tocar, ou interagir. Só temos emulação ou simulação e torna-se cada vez mais difícil separar o que é simulado do que é “original”.
Estes foram alguns dos principais pontos abordados na fala de Peter Krapp. Após sua apresentação, foram respondidas ao vivo algumas das perguntas feitas através da plataforma Zoom. Para conferir na íntegra o primeiro dia de Semana da Imagem basta acessar o link abaixo. A semana da imagem vai até dia 10 de novembro e contará com ainda mais eventos. Confira a programação na íntegra aqui.
20ª Semana da Imagem da Comunicação | “Is the internet a museum of computing?” – Dr. Peter Krapp
Texto: Gabriel Palma.
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