Construtos de Loucura no Cinema Contemporâneo: um olhar tecnocultural sobre a insanidade a partir de Coringa (2019)

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No dia 26 de abril, às 14h, ocorreu banca de defesa de dissertação da discente Amerian Aurich, intitulada Construtos de loucura no cinema contemporâneo: um olhar tecnocultural sobre a insanidade a partir de Coringa (2019). A banca aconteceu em formato online e contou com a avaliação dos professores Dra. Miriam de Souza Rossini, Dr. Tiago Lopes, Dra Sonia Montaño (orientadora) e Dr. João Bittencourt (coorientador).

A pesquisa de Amerian aborda a loucura no audiovisual, assunto que pode ser visto, segundo a autora, a partir de diferentes perspectivas e narrativas além das técnicas e estéticas das imagens que produzem camadas e que, quando acionadas pela memória, ganham sentidos. Dessa forma, a discente direcionou a sua pesquisa aos construtos fílmicos da loucura no cinema do século XXI, especificamente no filme Coringa (2019), onde viu a loucura como conceito central no desenvolvimento da narrativa, assim como a potencialidade midiática desse filme, o que possibilitou pensar o conceito de loucura sob uma perspectiva tecnocultural. Norteada pela pergunta central “como a loucura, enquanto construto tecnocultural, se atualiza em imagens técnicas do cinema contemporâneo?“, teve como objetivo analisar e compreender como a loucura se atualiza no cinema contemporâneo por meio do filme Coringa (2019). 

Dadas as estruturas da sua pesquisa, Amerian explicou o escopo teórico da sua dissertação destacando as perspectivas acerca de conceito da reprodutibilidade técnica de Walter Benjamin, a tecnocultura a partir dos autores como Gustavo Fischer e Deborah Shaw, o cinema e montagem segundo André Parente e Sergei Eisenstein, além do imaginário da loucura e imagens técnicas da loucura, a partir de autores como Michel Foucault e Isaías Pessotti. 

Arranjo metodológico

Como proposta metodológica a discente trouxe a flânerie, as coleções e as constelações baseadas em Walter Benjamin. A proposta da flânerie lhe proporcionou observar, ou “libertar o olhar” em vários ambientes tecnoculturais, observando os espaços e ambiências ocupados pelo filme analisado. Já na etapa das coleções surgiu a figura da colecionadora, a qual viu importância nos sentidos individuais de cada material coletado e que depois passou a agrupá-los devido às suas afinidades e semelhanças. Na etapa seguinte, Amerian passou para a produção das constelações, as montagens das coleções por afinidades, e de onde nasceram as imagens dialéticas.

Nesse sentido, na primeira etapa a pesquisadora propôs pensar no flâneur de forma metafórica, como um viajante que vai recolhendo elementos (da loucura) e passa a guardá-los em uma mochila. Por isso, durante a sua flânerie ela foi recolhendo materiais onde percebesse existir a loucura “na e das imagens”.

Já nas coleções, Ameriam passou a agrupar os materiais recolhidos a partir de afinidades e compatibilidades temáticas e estéticas – a plasticidade das imagens. Para tanto, precisou observar os tópicos fundamentais no que diz respeito à loucura tanto nas imagens do filme Coringa, quanto nos materiais midiáticos coletados. Assim, formou as nove coleções observadas na imagem abaixo:

A partir dessas coleções a pesquisadora criou duas constelações principais intituladas “é isso, você está louco” e “é impressão minha ou o mundo está ficando mais louco?”. A primeira constelação remete à loucura vinculada ao indivíduo e a segunda à insanidade construída na coletividade e na ambiência:

Na imagem que segue é possível perceber que a dança do personagem de Arthur Fleck – Coringa – reflete a liberdade que ele sente em determinados momentos durante a narrativa e que na maioria das vezes está relacionada com a violência. A dança, para a pesquisadora, se relaciona com a transformação de Arthur no Coringa, por isso acaba destacando momentos importantes na narrativa do filme relacionados à loucura, e que pode ser encontrada em outras ambiências que o filme ocupa.

A dança do personagem no filme popularizou nas redes sociais através do desafio Joker challenge, onde pessoas performatizavam a dança do Coringa em escadas e publicavam as imagens na internet. Esse fato pode estar relacionado, segundo Amerian, a necessidade de performatizar nas redes expondo a loucura das imagens, dada a urgência de compartilhar essas imagens técnicas e de se sentir incluído. E, em outro aspecto, pode ser compreendida como uma loucura construída audiovisualmente na tecnocultura e que pode, nas palavras da pesquisadora, demonstrar o potencial dessas imagens em normalizar a insanidade ou as expressões de liberdade.

A banca

Para os professores Dra. Miriam Rossini e Dr. Tiago Lopes, foi impressionante a quantidade de materiais teóricos apresentados na dissertação, assim como os materiais visuais apontados e vistos pela discente durante a escolha do corpus da pesquisa: vê-se que a proposta metodológica da flânerie também abarcou a escolha do filme. Por isso, para a pesquisadora Dra. Miriam Rossini, um dos pontos de destaque na dissertação foi o uso das propostas metodológicas de Benjamin, que trouxe mérito à pesquisa de Amerian, além da organização das imagens referentes à ideia das coleções. Outro destaque foi a perceptível evolução de Amerian como pesquisadora, fato que ficou evidente no texto. Isso porque, para o professor Dr. Tiago Lopes, como o conceito de loucura pode perpassar por vários campos de conhecimento, a discente conseguiu organizar e produzir um trabalho sobre essa temática a partir de uma perspectiva comunicacional, dando ênfase ao programa de comunicação do qual participa, olhando para além do próprio objeto fílmico. 

Texto: Flóra Simon da Silva

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