#TCAv Indica: “Ruínas do excesso: o design dos jogos digitais como renderização das ruínas da obsolescência programada”

Publicado na Revista Antares em 2020, hoje no TCAv indica, recomendamos o artigo “Ruínas do excesso: o design dos jogos digitais como renderização das ruínas da obsolescência programada”, de autoria do egresso Dr. Eduardo Harry Luersen e do Prof. Dr. Mathias Fuchs (Leuphana Universität Lüneburg – Alemanha).

O artigo se propõe em descrever três camadas de ruínas que estejam relacionadas à tecnologia dos jogos de computador: a primeira de uma ordem da superfície, os autores destacam as ferramentas de design que são utilizadas para produzir ruínas nos mundos audiovisuais dos jogos; na sequência, é abordada a política industrial da obsolescência tecnológica, de uma ordem infraestrutural que “demanda a produção de espaços provisórios para a decadência material; e, por fim, chamada de “camada de sucata”, é explorada a dimensão geopolítica da obsolescência programada, destacando-se assim os “fluxos transfronteiriços de lixo eletrônico, que demarcam também um estágio geológico de arruinamento”. A partir desse arranjo de camadas, são relacionadas formas contemporâneas distintas de arruinamento, “questionando como o game design se relaciona com processos complexos de deterioração das mídias na atualidade”.

Imagem produzida pelos autores (LUERSEN; FUCHS, 2020).

Conforme os autores apontam no começo do texto, de modo geral, as narrativas de progresso contínuo que por sua vez marcam o desenvolvimento histórico dos meios técnicos de comunicação (séculos XIX e XX) foram alimentadas pela comparação entre novas e velhas mídias (LUERSEN; FUCHS, 2020). Este movimento não é diferente ao observarmos a história dos computadores e, no caso do trabalho dos autores, os jogos digitais ainda que essa repetição da narrativa traga uma diferença importante: “os computadores e videogames enunciam a inovação a partir de uma comparação com versões anteriores de si mesmos”, ou seja, não necessariamente de outros formatos de mídia. Para os autores,

Profundidade de bits dos arquivos de áudio, técnicas de renderização gráfica, processamento de partículas, grãos e detalhes materiais, física de colisão de objetos, complexidade de texturas musicais, são todas características que apontam para um aprimoramento da potência de processamento e da capacidade de armazenamento da própria mídia computacional. Entretanto, paradoxalmente, em vez de parecerem e soarem mais limpas e evidentes, as dimensões aurais e visuais dos jogos contemporâneos parecem apresentar uma profusão cada vez maior de ruínas audiovisuais. (LUERSEN; FUCHS, 2020, p. 24).

O que se compreende é que as ruínas trazem em si processos temporais complexos. Enquanto escombros de processos culturais de longo prazo, estas não se reduzem a amontoados aleatórios de estruturas materiais, monumentos e maquinários destruídos: relacionam-se a objetos que estimulam nossa memória a desencadear lembranças (LUERSEN; FUCHS, 2020). Tendo isso em vista, são levantados os seguintes questionamentos: “o que as ruínas audiovisuais dos jogos podem dizer sobre a sua decadência material, enquanto destroços culturais das mídias digitais?” ou ainda, “o que poderíamos aprender ao atravessarmos os incessantes amontoados de ruínas dos jogos?”. Para os autores, as ruínas audiovisuais dos jogos, de forma mais direta, são imagens topográficas dos processos materiais de arruinamento que proveniente da obsolescência tecnológica – o qual acabam por definir a infraestrutura da cultural digital ao mesmo tempo que a extrapolam.

O artigo na íntegra pode ser conferido aqui.

*Há, também, uma versão do artigo publicada em inglês, “Ruins of Excess: Computer Game Images and the Rendering of Technological Obsolescence”, no Journal Games and Culture, em abril de 2021, sendo possível acessá-lo aqui.


Texto: Camila de Ávila

Referência:

LUERSEN, Eduardo Harry; FUCHS, Mathias. Ruínas do excesso: o design dos jogos digitais como renderização das ruínas da obsolescência programada. In: Revista Antares: Letras e Humanidades, v. 12, n. 28 p. 23-48, dez. 2020. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/antares/article/view/9186.

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