TCAv Indica – Ethicidades Televisivas, sentidos identitários na TV: moldurações homológicas e tensionamentos

Nesta edição da série Tcav Indica, apresentamos o livro de  Suzana Kilpp publicado pela Editora Unisinos, em 2003.

O século XX assistiu ao desenvolvimento de incontáveis estudos sobre o fazer comunicativo e mais especificamente sobre os meios de comunicação. As importantes transformações sociais e econômicas vividas no mundo neste período, o processo de urbanização, a consolidação do capitalismo industrial, o surgimento da sociedade de consumo e dos meios de comunicação de massa, podem ser apontados como fatores a impulsionar a produção de conhecimento na área.

De fato, ao longo do tempo, vários autores construíram corpus teóricos para o estudo do papel e da influência dos meios de comunicação na sociedade contemporânea, utilizando perspectivas e classificações distintas que variaram de acordo com o ambiente sociocultural e as injunções históricas, econômicas e políticas existentes à época em que foram formuladas.

Os estudos foram sendo ordenados ora de acordo com as diversas   correntes de pensamento (corrente funcionalista, marxista, estruturalista), ora seguindo uma classificação conforme a ênfase específica dada ao objeto (ou processo) de pesquisa, por exemplo, a ênfase na instância da produção, ou na instância da recepção; na técnica, meio ou suporte; ou na mensagem.

Outra forma de agrupamento tomou como referência a base geográfica: Escola Americana, Escola Francesa, Escola Latino-Americana. Mas será que podemos agregar a esta classificação a existência de uma escola brasileira de comunicação? Na visão de alguns autores como Gomes (2003) e Marques de Mello (2010) , por exemplo, as pesquisas na área de comunicação no Brasil, embora abundantes, ainda carecem de uma metodologia específica que não seja caudatária de formulações estrangeiras e de outras áreas do conhecimento.

Da mesma forma, Suzana Kilpp, autora do livro aqui indicado, considera que, no que diz respeito à televisão, seu objeto de estudo, há uma “insuficiência teórica que estaria a demandar que experimentássemos cercar o objeto de mais e mais variadas metodologias de análise que dessem mais a ver as gramáticas televisivas” (p. 16).

Capa do livro “Ethicidades Televisivas, sentidos identitários na TV: moldurações homológicas e tensionamentos” de Suzana Kilpp

Esta sua particular contribuição para a área de análise dos meios, particularmente da televisão no contexto brasileiro. Em seu livro Ethicidades Televisivas, sentidos identitários na tv: moldurações homológicas e tensionamentos, fruto de sua tese de doutoramento defendida na Universidade do Vale do Rio dos Sinos em 2003, a autora propõe uma metodologia que supera as abordagens que privilegiam a produção ou a recepção.

Com o intuito de compreender melhor o mundo onde está inserida a televisão, Kilpp busca oferecer algumas respostas a questões que estão envolvidas nas práticas (moldurações) com as quais a televisão enuncia certos sentidos identitários (éthicos e estéticos) às durações, personas, objetos, fatos e acontecimentos que dá a ver (ethicidades televisivas) ( p. 17). A partir do desenvolvimento deste modelo de análise, a autora sugere à pesquisa em Comunicação a utilização das molduras e das moldurações como categorias de análise.

A pesquisa de Suzana se dá no corpus da televisão aberta brasileira, é uma proposta original para se estudar as audiovisualidades na tecnocultura, e seu estudo está estruturado a partir de conceitos como ethicidades, molduras, imaginários e moldurações, conceitos extremamente utilizados metodologicamente nas pesquisas de integrantes do Grupo TCAV, justamente por estimular olhar as imagens (e se deixar ser olhado) por uma cartografia que conforme a autora comenta “[…] de molduras e moldurações implicadas nessas ethicidades para chegar, a partir do televisível, ao que é propriamente televisivo (p. 15). Vale ressaltar que a partir da proposta metodológica desenvolvida por Kilpp, não se restringe a empiria televisiva, mas nas pesquisas do TCAV, a metodologia das molduras é extremamente relevante para tensionar as audiovisualidades presentes em objetos não necessariamente reconhecidos como audiovisuais, dando origem a uma prática que os membros do grupo de pesquisa indicam como uma das tecnometodologias (é possível verificar a prática dos movimentos de análise em matéria que publicamos em 2020 aqui!)

Ao provocar a problematização das ethicidades como imaginários próprios daquele ambiente, ou seja, o televisivo, Suzana fez um movimento de desconstruir um objeto, tão presente em nossa cultura brasileira, para a partir da técnica entregar como são construídos os sentidos identitários de tevê. A televisão para a autora é […] virtualmente (ethicamente) um composto de molduras, moldurações e ethicidades televisivas que dão a ver, com certos sentidos os imaginários televisíveis (Kilpp, 2003, p. 205).

A extensão da pesquisa de Suzana Kilpp pode ser acessada em seu próprio site, onde residem publicações, práticas e reflexões acerca do tema tão caro ao campo da comunicação. Para maiores informações, é possível acessar aqui: http://www.suzanakilpp.com.br/ethicidades.php

Além disso, há diversas publicações da autora que podem ser acessadas aqui!

Texto: Roberta Krause

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