TCAv entrevista: Caroline Govari do Digilabour sobre o desenho animado “Fazendas de clique” (2022)

postado em: Atualizações, Entrevistas | 0

Lançado no mês de abril de 2022 pelo Laboratório de Pesquisa Digilabour, o desenho animado Fazendas de Clique, é um produto da pesquisa Click Farm Platforms in Brazil and Colombia: work conditions and worker organising. Conforme descrito pelo Digilabour, a investigação evidenciou como este tipo de atividade é a deep web do trabalho por plataformas no Brasil, renovando e radicalizando a histórica informalidade no país (Digilabour, 2022).

O projeto tem coordenação do Prof. Dr. Rafael Grohmann e da equipe da pesquisa: Alison Rodrigues, Caroline Govari, Évilin Matos, Profa. Dra. Maria Clara Aquino e Profa. Dra. Adriana Amaral. O roteiro foi desenvolvido por Lucas Milanez e Eloy Vieira. Conversamos com Caroline Govari, doutora e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos sobre o desenho animado. Confira abaixo a entrevista:

– Carol, poderia contar para a gente um pouco do projeto e quais seus objetivos?

Os dois episódios do desenho animado ‘Trabalho em Fazendas de Clique’ são resultados da pesquisa Click Farm Platforms in Brazil and Colombia: work conditions and worker organising, financiada pela University of Witwatersrand (da África do Sul), no âmbito do projeto The Future of Work(ers) in the Global South. Durante muitos meses, coletamos informações em grupos de Facebook e Whatsapp das chamadas “fazendas de clique”, que são essas plataformas que pagam usuários para seguir, curtir e comentar em publicações de determinados perfis nas redes sociais. Esse é um tipo de serviço cada vez mais comum no Brasil – e em outros países da América Latina, como a Colômbia, que fazia parte do nosso corpus –, mas não é um mercado regulado. Como produzimos muitos artigos e relatórios – que, de certa forma, sempre sendo lidos apenas na nossa área –, o desenho surge com o objetivo de extrapolar a barreira acadêmica e levar essas informações ao maior número de pessoas, esperando que elas problematizem e compreendam como funciona e como a realização desses “microtrabalhos” impacta a vida de milhões de pessoas.

– Qual a contribuição do projeto para a área das ciências da comunicação a partir do Digilabour?

As pesquisas que ocorrem dentro do Digilabour priorizam as tecnologias digitais, em especial nas suas relações com o mundo do trabalho. Então, ao levantar dados sobre essas plataformas de fazenda de clique, coletamos também muitos dados que dizem respeito a classe social, raça, gênero, fatores socioeconômicos, entre outros aspectos que discutimos na área da comunicação. Além disso, a contribuição se dá também ao debater um tema que está redefinindo os fluxos sociais e as próprias condições de trabalho – isso sem falar na camada de desinformação que essas plataformas acabam gerando. Então é um projeto que trata de questões extremamente urgentes e de interesse público, e esperamos que ele possa servir de modelo para futuras pesquisas.

– O desenho (e toda a sua cadeia envolvida) evidenciam características da tecnocultura que estamos vivendo. Como o estudo de plataformas pode auxiliar a compreensão desse processo?

Por mais que as plataformas de fazendas de clique não sejam novas, elas estão cada vez mais populares, se tornando uma “alternativa” de trabalho. E estudar essas plataformas faz com que a gente consiga ter uma visão muito ampla da sociedade: por exemplo, os clientes dessas plataformas são celebridades, influencers, políticos, e organizações que querem impulsionar suas contas nas redes sociais. E os trabalhadores, por sua vez, são pessoas que foram cooptadas por uma promessa de empreendedorismo, de “vida fácil”, de “ganhe dinheiro sem sair de casa”. Todavia, ao remunerarem seus trabalhadores com centavos, as plataformas iniciam uma exploração de trabalho que atua no limite entre a informalidade e a ilegalidade, visto que esses trabalhadores criam contas falsas, robôs e outros artifícios para cumprir as metas e aumentar o lucro. Então é uma relação social que a gente já conhece, mas que agora afeta diretamente a área das tecnologias digitais.

Para saber mais sobre o projeto, veja no link a seguir os episódios no canal do Digilabour no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=y2sYvvSOo3A

Conheça a pesquisa do Laboratório Digilabour:  https://digilabour.com.br/2022/04/18/desenho-animado-sobre-fazendas-de-clique/

Texto: Roberta Krause

Deixe um comentário