Seminário de Dissertação e de Tese 2022/1

No dia 9 de maio, às 14h, ocorreu o Seminário de Dissertação e o Seminário de Tese 2022/1, no formato online. Esta é uma etapa importante no percurso da pesquisa, o qual tem como objetivo promover um preparo dos discentes visando a banca de qualificação (mestrado e doutorado). É uma primeira troca acerca da proposta para o documento de qualificação, onde os trabalhos passam por uma rodada de feedbacks, com apontamentos e contribuições teóricas e metodológicas, bem como referentes à estrutura da pesquisa que está sendo proposta.

Os textos que compuseram esta rodada foram os dos mestrandos Ananda Zambi de Albuquerque, Gabriel Rocha Palma e Priscila Boeira de Lima, e da doutoranda Belisa Zoehler Giorgis. As considerações feitas aos trabalhos que foram submetidos ao Seminário de Dissertação e ao Seminário de Tese, foram realizadas pelos professores Dr. Gustavo Daudt Fischer, Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes e Dr. João Ricardo Bittencourt. Os comentários por parte dos discentes, foram feitos pelos doutorandos Maximiano Duval da Silva Cirne e Lucas Mello Ness, bem como contamos com a participação dos egressos do TCAv para esse momento: Dr. Julherme José Pires, Dra. Julieth  Correa Paula, Dra. Clarissa Rita Daneluz e Dra. Magda Rosí Ruschel. Confira abaixo os trabalhos debatidos:


A tecno(contra)cultura do rock brasileiro em 1986 (Ananda Zambi de Albuquerque)

A proposta apresentada por Ananda, orientada pelo Prof. Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes, busca analisar as audiovisualidades da tecnocultura a partir dos videoclipes de rock nacional da década de 1980, com um recorte no ano de 1986, o qual é entendido como o ano mais frutífero do BRock. A partir desta delimitação, a discente se propõe identificar de que modo tais audiovisualidades se atualizam nos videoclipes desta época, levando em consideração a importância do estilo musical trabalhado para o movimento contracultural no âmbito nacional, indicando pistas para se pensar em uma possível tecno(contra)cultura do rock brasileiro.

Isso possibilita abrir o debate sobre audiovisualidades específicas, refletindo de que modo a tecnologia audiovisual disponível na época, no cenário brasileiro, influenciou na produção de videoclipes de rock brasileiro ao longo de 1986. Assim, a pesquisa não se limita em realizar um estudo do rock brasileiro da década de 1980 enquanto movimento musical, mas sim busca identificar e refletir sobre a potência audiovisual que ele traz em si.

Fonte: Elaborado pela autora.

Até o momento, os empíricos que compõem sua proposta de pesquisa somam-se em nove videoclipes de nove artistas do BRock, os quais foram lançados no ano de 1986, disponíveis na plataforma do YouTube. São eles: “Homem Primata” (Titãs), “Envelheço na Cidade” (Ira!), “Alagados” (Paralamas do Sucesso), “Louras Geladas” (RPM), “Revanche” (Lobão), “Só o Fim” (Camisa de Vênus), “Fátima” (Capital Inicial), “Tempo Perdido” (Legião Urbana), “Sopa de Letrinhas” (Engenheiros do Hawaii). Sua metodologia parte essencialmente da cartografia de Walter Benjamin, a qual se dá a partir de mapeamentos que consideram os agenciamentos de sentidos, os objetos empíricos em constelações, coleções e dissecações. Para esta etapa do seminário de dissertação, a discente apresentou algumas de suas coleções preliminares com os videoclipes.

Os apontamentos, de modo geral, foram de apreciação da boa leitura da pesquisa proposta pela discente, que ainda em um estágio inicial já indica uma pertinência para as discussões da linha de pesquisa a qual se insere. O diálogo que se propõe a partir da questão do rock, vai além da questão visual e tangencia a questão do som, onde os videoclipes reforçam essa pertinência de debate e que agrega ao trabalho de forma positiva. Além disso, enquanto sugestões, foi provocado a tentar aproximar de artistas que estão mais à margem do circuito midiático, mais na periferia, enquanto um contraponto para auxiliar na construção dessa ideia de tecno(contra)cultura. Do mesmo modo, foi sugerido observar as “tecno-contradições” presentes neste período o qual a pesquisa se debruça, tendo em vista que muitos dos artistas se inserem no status quo da época, mesmo que estivessem realizando alguma crítica social.


TIKTOK COMO DEVIR DA CULTURA DO REMIX: As remixabilidades audiovisuais nos challenges da plataforma (Gabriel Rocha Palma)

Tendo como inspiração a perspetiva do remix, especialmente a partir da música, Gabriel justifica sua motivação da pesquisa por conta de sua curiosidade acerca do tema o qual é apresentado no documentário “Everything is a Remix” (2010) e destaca sua inclinação para estudar as tendências comunicacionais e memoriais do audiovisual. Isso o motivou a observar, enquanto objeto empírico, o TikTok por conta de suas potências audiovisuais em uma dimensão da remixabilidade, mostrando-se um construto pertinente em meio a tecnocultura audiovisual. Sob orientação do Prof. Dr. Gustavo Daudt Fischer, o discente propõe compreender quais remixabilidades audiovisuais surgem dos challenges do TikTok. 

O discente organiza sua fundamentação teórica trazendo aportes teóricos aplicados ao objeto de estudo, perpassando a arqueologia das mídias (Erkki Huhtamo), dispositivo cinema (André Parente), remixabilidade profunda (Lev Manovich) e um ensaio de problematização dos challenges enquanto remixabilidade audiovisual – que o auxiliou no desenvolvimento da proposta dos movimentos metodológicos –, convocando a noção de memória (Henri Bergson) para auxiliar a observação das produções na plataforma.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Seu arcabouço metodológico tem como referência as experiências desenvolvidas no TCAv e na linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais. Assim, o discente busca “remixar” as práticas metodológicas da arqueologia das mídias (escavação, dissecação, camadas) juntamente com as da cartografia (flânerie, coleções). Em sua pré-análise, são apresentadas algumas das camadas de Remixabilidade Audiovisual que o discente está propondo como integrantes do TikTok: filtro, performance, sonora, software e banco de dados.

De modo geral, ao longo do seminário, os comentários acerca do texto do discente foram de destaque para uma escrita muito clara e um texto bem organizado. Dentre os apontamentos, também se evidenciou o ensaio de problematização proposto pelo discente, pois funcionou positivamente como forma de trazer certa solidez na proposta da pesquisa a partir da apresentação de um caso e, com isso, de nos aproximarmos de suas percepções iniciais que levam às perguntas norteadoras do trabalho. Enquanto provocação, foi sugerido um movimento de flânerie por outros objetos e fenômenos que antecedem o TikTok, os quais podem proporcionar insights para pensar a plataforma em estudo e, de certa forma, auxiliar a validar as camadas que estão sendo propostas.


A construção de sentidos sobre a Serra Gaúcha no Reels do Instagram (Priscila Boeira de Lima)

Em sua proposta de pesquisa debatida no seminário, Priscila lança um olhar para pensar os construtos de Serra Gaúcha a partir das imagens geradas na plataforma do Instagram, em específico através do formato Reels. Essencialmente, os conteúdos que são produzidos no Reels são no formato de vídeo, os quais carregam em si a potência de outros meios que o antecedem, como a TV, o cinema e o rádio, os quais contagiam e atravessam as criações destes conteúdos. Inicialmente, a pesquisa esteve sob orientação da Profa. Dra. Sonia Montaño e, atualmente, encontra-se sob orientação do Prof. Dr. João Ricardo Bittencourt.

Em seu escopo teórico, a discente busca se aproximar da ideia de estado-vídeo (Philippe Dubois), ao conceito de imagem crítica (Georges Didi-Huberman), da linguagem das novas mídias (Lev Manovich), bem como da teoria da caixa preta (Vilém Flusser). Os autores convocados auxiliam na compreensão não apenas do usuário como produtor e produto tecnocultura, mas apresentam diálogos que tangenciam questões como: dispositivos móveis e a sua extensão corporal e mental; o videoclipe como um formato lúdico para se contar histórias; e a ideia da própria Serra Gaúcha como um construto.

Fonte: Elaborado pela autora.

Enquanto procedimentos metodológicos, a discente se propõe observar os vídeos sobre a Serra Gaúcha inseridos em um conjunto de imagens, enquadramentos, interfaces e dispositivos, o que resulta em outras imagens com mais elementos a serem analisados. Para isso, são acionados movimentos de escavação, dissecação, cartografia e constelações das imagens que se apresentam nos Reels do Instagram, com esse recorte para essa construção audiovisual da Serra Gaúcha. Assim, para a discente, as diferentes Serras Gaúchas que surgem por meio dessas imagens a motivam na realização dessa proposta de pesquisa.

Referente às contribuições dos professores e colegas do TCAv, destaca-se que o texto traz pistas para uma reflexão bastante rica e potente sobre o imaginário televisivo em relação a essas imagens da Serra Gaúcha, sendo algo que pode ser ampliado para a etapa da qualificação. Nesse sentido, refletir se tais postagens não retomam uma certa idealização da Serra Gaúcha que vemos especialmente sendo retratada na cobertura televisiva do Rio Grande do Sul (ideia de uma imigração perfeita, a culinária, a natureza etc.). Outra sugestão que o texto suscitou é a de lançar um olhar para a questão do gesto, sejam eles por parte do usuário quanto dos gestos acionados em movimentos no vídeo. Para isso, indicou-se a leitura que Vilém Flusser faz essa ideia de gesto, pensando como esses novos gestos, essas novas performances de lidar com as novas tecnologias demonstram o modo como estamos vivendo hoje. Nesse sentido, pensar nos gestos de produção compartilhada, especialmente pelo território em que está se observando essa produção de conteúdo.


Audiovisualidades e Tecnocultura nas Estratégias das Mulheres Musicistas Independentes de Porto Alegre no Contexto da Pandemia da Covid-19 (Belisa Zoehler Giorgis)

Em sua proposta de pesquisa, em debate no Seminário de Tese, Belisa procura observar e analisar as estratégias que são utilizadas em ambiente digital por mulheres musicistas independentes de Porto Alegre (RS), onde estas são compositoras, cantoras e instrumentistas que lançaram seus projetos musicais ao longo da pandemia da Covid-19 (durante o período entre 2020 e 2021), realizando uma aproximação da perspectiva das audiovisualidades e da tecnocultura. A pesquisa se encontra sob a orientação do Prof. Dr. Tiago Ricciardi Correa Lopes.

Seu texto traz uma boa contextualização do cenário cultural porto-alegrense, o qual teve grande impacto por conta da pandemia onde foi preciso se adequar ao formato digital. Aproximando da proposta da pesquisa, isso reforça a importância da construção de um olhar para o que foi produzido pelas mulheres musicistas independentes, os desafios no processo e as estratégias utilizadas por elas, o que permite uma contribuição significativa para o campo da Comunicação, especialmente no que diz respeito às audiovisualidades e a tecnocultura em interface com a música e as questões de gênero. Além disso, o trabalho propõe aproximações dos estudos de plataformização em articulação com os conceitos de audiovisualidades e tecnocultura.

Fonte: Elaborado pela autora.

Em seus procedimentos metodológicos, a discente propõe a utilização da metodologia das molduras, onde os movimentos são relacionados às três dimensões das audiovisualidades (ordem técnica, discursiva e cultural). Além disso, somam-se a cartografia, a desconstrução, a dissecação e coleções. A partir da flânerie, é estipulado o corpus da pesquisa, chegando em quatro musicistas e um grupo composto por cinco musicistas: Clarissa Ferreira; Gabriela Lery; Grupo Três Marias; Bianca Obino; e Bel Medula.

De modo geral, os comentários acerca de sua proposta destacam um texto com uma boa escrita, de modo objetivo e claro, bem construído e organizado. Para os debatedores, a pesquisa carrega em si uma pertinência que tem sido produtiva nos últimos anos dentro do TCAv, trazendo temáticas mais inovadoras e que se aproxima das questões de gênero. Como colocado em uma das falas, isso provoca a pensar as audiovisualidades por um outro ângulo nessas temáticas que se mostram de um caráter mais sócio-políticas, tensionando (e provocando) com uma perspectiva da tecnocultura e das audiovisualidades. Uma das sugestões propostas à discente é o de pensar na potência da questão do “do it yourself”: uma ideia que pode ser atualizada a partir da perspectiva da ordem das ferramentas, da audiovisualização da cultura e que podem render pistas que tenham ligação com os processos de autonomização da mulher musicista e da necessidade de produção em coletivos – uma espécies de ethos “do it yourself”, enquanto uma especificidade deste movimento que se apresenta.


Texto: Camila de Ávila
Revisão: Max Cirne

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