Titanic, Avatar e os mundos enquadrantes e enquadrados do cinema

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Na quinta-feira, 29 de junho, realizou-se a banca de qualificação de mestrado do integrante do TCAv Rumenig Eduardo Pereira Pires. O trabalho de título Construtos técnicos, estéticos e narrativos de zona de limiar com barreira no cinema foi aprovado por uma banca de três professores, os avaliadores Gustavo Fischer e Tiago Lopes e a orientadora do aluno, Suzana Kilpp.

Os professores Tiago Lopes, Gustavo Fischer e Suzana Kilpp na banca

Na apresentação de seu trabalho, Rumenig relatou uma experiência de sua infância. O primeiro filme a que ele assistiu foi Batman Eternamente (1995), uma sugestão de seu pai. Um slide mostrava uma foto dele ainda menino caracterizado como o personagem. Mesmo que pudesse se vestir como o super-herói e se imaginar combatendo o mal em Gotham City, não conseguia viver no mundo do filme. O cinema o impedia de fazer isso. “Eu queria ser o Batman, mas tinha uma barreira”, contou. A história podia envolvê-lo e transportá-lo para Gotham; mas, quando ela acabava, ele se via em frente a uma tela. “Eu tinha uma experiência de limiar, mas eu tinha que voltar”. E essa volta causava frustração ao menino. O mundo do filme parecia mais interessante que o mundo em que ele vivia. Essa experiência é o ponto de partida para entender o seu interesse de pesquisa no Mestrado.

Cartaz e cena do filme Batman Eternamente (1995)

Rumenig se sente fortemente afetado por um tipo de filme que contém em sua história dois mundos contrastantes, um trivial e outro fantástico, segundo os termos utilizados pelo aluno. No mundo trivial, acontecem coisas cotidianas. E, no mundo fantástico, romances e aventuras. Entre esses dois mundos, há o que Rumenig chama de zona de limiar. Para ele, essa zona possui certa permeabilidade e também uma barreira. A permeabilidade permite que um personagem, a partir do mundo trivial, adentre, em alguma medida, o mundo fantástico. Mas a barreira, por sua vez, impede que ele adentre totalmente o mundo fantástico e permaneça ali. A barreira, então, faz com que esse personagem volte ao mundo trivial. Na percepção de Rumenig, isso deixa o personagem frustrado. Agora, é possível entender a relação da experiência do pequeno Batman com o interesse de pesquisa do mestrando. A frustração do personagem que não consegue passar para o mundo fantástico é semelhante a do espectador que não consegue viver no mundo ficcional do filme.

Na perspectiva de Rumenig, mundo trivial e mundo fantástico correspondem a mundo enquadrante e a mundo enquadrado, respectivamente. Isso porque o personagem do filme conta desde o mundo trivial o que acontece no mundo fantástico.

Em um filme, o contraste e o enquadramento desses dois mundos assim como a passagem de um ao outro ocorre por meio do que Rumenig chama de construtos de experiência de zona de limiar com barreira. Esses construtos são de ordem técnica, estética e narrativa. E constituem, portanto, o seu objeto de pesquisa. A sua questão-problema é Como os construtos de experiência de zona de limiar com barreira se atualizam no corpus?. O corpus, por enquanto, é composto de quatro filmes, Titanic (1997), Avatar (2009), O Grande Gatsby (2013) e La La Land (2016).

Análise do limiar em Titanic

Em Titanic (1997), a personagem Rose vê em uma reportagem de TV o desenho de uma jovem mulher nua usando um colar de diamantes. Esse desenho foi encontrado por caçadores de tesouro no fundo do mar junto aos destroços do RMS Titanic, navio que afundou em 1912. Rose reconhece o desenho, pois é ela a mulher retratada. Então, a idosa procura os caçadores e passa a contar a sua história. Rumenig percebe nesse filme um limiar temporal. Rose pode recordar o que viveu à bordo do Titanic, mas não pode voltar mais naquele tempo.

Na qualificação, especificamente a partir desse filme, Rumenig analisou cenas de limiar, isto é, cenas em que ocorre a transição do presente ao passado, do mundo trivial em que a Rose idosa agora vive ao mundo fantástico em que a Rose jovem se apaixonou à bordo de um navio. O mestrando ensaiou alguns procedimentos de análise como paleta de cores e gráfico espectral. A paleta destaca as cores das cenas do presente e do passado. As do presente são mais frias e em tons de azul e verde, e as do passado, mais quentes e em tons de laranja. E o gráfico evidencia os sons utilizados na transição do mundo trivial para o fantástico, como fala, ruídos e trilha.

Cenas de limiar em Titanic (1997) (Imagem cedida por Rumenig Pires ao site do TCAv)

Reflexão sobre o limiar na banca

A grande reflexão feita durante a banca de qualificação foi como nomear, definir e delimitar melhor isso que Rumenig percebe nos filmes – a zona de limiar com barreira. Nesse sentido, o mestrando recebeu de Gustavo e Tiago algumas sugestões e indicações de como prosseguir com a sua pesquisa.

Tiago, Rumenig, Gustavo e Suzana após a banca de qualificação

Texto e fotos: Fabricia Bogoni.

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