#TecnometodologiasTCAv: Glifos Durantes na Superfície Audiovisual

• Os textos que compõem esta seção constituem uma investigação dos procedimentos técnico-metodológicos utilizados nas pesquisas de mestrado e de doutorado de integrantes e de egressos do Grupo TCAv.

Título: Glifos Durantes na Superfície Audiovisual
Nível: Mestrado 

Autor: Rangel Redaelli 
Orientador: Dra. Suzana Kilpp 
Ano de defesa: 2012
Tags: cinema, comunicação, audiovisualidades, glifos, duração
Link da dissertação: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/3073 

O egresso Rangel Redaelli possui graduação em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Caxias do Sul (2006), é especialista em Gestão Empresarial pela Faculdade da Serra Gaúcha (2009) e mestre em Ciências da Comunicação pelo PPGCOM da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2012). Atuou em agências de publicidade, docência no ensino superior e atualmente é diretor da BNB House.

O estudo realizado no TCAv se propôs a formular um conceito que dá o título à dissertação e avalia o impacto da intervenção de elementos estáticos impressos sobre a imagem movente a partir do conceito de duração de Bergson e de linha e superfície de Flusser. Investiga também, em diferentes experimentos audiovisuais, a duração agenciada por esses glifos. A matéria sobre a sua banca de defesa pode ser acessada aqui.

Com relação a tecnometodologia utilizada, nas palavras de Rangel,

“tomando como princípios metodológicos a intuição, as cartografias, a desconstrução e as molduras, o que resulta em um procedimento de scanning, que intercala flaneuria e dissecação. No processo de invenção metodológica e aproximação do objeto, realiza-se uma pesquisa exploratória que flana através de experimentos pré-cinematográficos (Alegoria da Caverna, Fenaquitoscópio, Tavoletta di Bruneleschi) e de produtos audiovisuais (Anèmic Cinema, Dans le Noir du Temps, O Livro de Cabeceira, Pierrot Le Fou, Pulp Fiction, The Life and Death of 9413). A abordagem metodológica propõe um procedimento, inspirado no movimento espiral experimentado pelo espectador quando colocado em contato com os glifos, que leva em conta as idas e vindas entre afecções e percepções, entre objetividade e subjetividade e entre atuais e virtuais. Por fim, procede-se com um estudo de caso, aplicando a metodologia do movimento espiral ao filme Dogville. Com isso, deseja-se contribuir com o estudo das audiovisualidades, propondo uma alternativa de operação metodológica que procura dar conta da complexidade dos objetos abordados por este campo”.

(RADAELLI, 2012, n.p.).

Em um primeiro momento, combina o método intuitivo, de Bergson, e o scanning, com uma visada flusseriana, para “inventar” seu próprio método de abordagem do audiovisual, mantendo a rigidez dos princípios metodológicos. Com isso, é possível pensar em termos de duração, partir do objeto e agir por retroação, autenticando no atual o que é passado coalescente e o que é devir. Assim, o misto da pesquisa é “o glifo divide-se em tipografia no audiovisual (atualização do texto) e imagens tipográficas (virtualidades da tipografia)”.

A metodologia das molduras articula intuição, cartografias, desconstrução e dissecação e propõe ainda uma forma de se rastrear o que há de comunicacional dentro do audiovisual investigado, identificando o que produz (ou pode produzir) sentido.

O autor cria uma representação gráfica esquemática de como compreende o movimento espiral dos glifos, dividido em quatro quadrantes, produzindo zonas de intersecção – tendo áreas de virtuais e atuais, divididas também em objetividade e subjetividade.

Fonte: (RADAELLI, 2012, p. 82).

“O glifo circula e se movimenta livremente para a parte mais interna ou mais externa da espiral. Quanto mais próximo ao centro, mais contraído é o grau de passado coexistente, e quanto mais afastado do centro, mais distendido é o grau de coalescência. A espiral é representada em duas dimensões, mas é fácil imaginá-la tridimensionalmente, adquirindo o formato de um cone. Esta terceira dimensão, no gráfico, vem para representar o tempo, assim como o fazem as linhas de fuga”.

(RADAELLI, 2012, p. 82).

O movimento de observação do audiovisual procura intercalar a atitude de flaneuria com a dissecação e pode ser imaginado dentro do mesmo gráfico apresentado. Rangel flanou pela superfície audiovisual, sem rumo definido ou ponto de apoio, deixando que o  móvel seja fosse lugar de investigação, deixando se afetar pelas imagens, “permanecendo na região esquerda do gráfico, flanando entre virtuais e atuais, em um exercício de magicizar e imaginar” e, de maneira simples e fluida, “procurei repetir o método a cada audiovisual que surgiu nesta produção de rizoma” (REDAELLI, 2012, p. 83).

Fonte: (RADAELLI, 2012, p. 84).

Os produtos audiovisuais Anèmic Cinema, Dans le Noir du Temps, O Livro de Cabeceira, Pierrot Le Fou, Pulp Fiction e The Life and Death of 9413 foram referências (da existência de molduras, moldurações e emolduramentos) para o pesquisador agir estrategicamente sobre os paradigmas tipográficos a que estava habituado. Afetado pelas experimentações realizadas por seus criadores nos audiovisuais apresentados, o pesquisador opta pelo estudo de caso do filme Dogville (Lars von Trier, 2003), rico em glifos para realizar um scanning mais aprofundado e sistemático. Quatro etapas foram seguidas pelo autor de modo a verificar o movimento espiral produzido pelo glifo:

  1. assistir ao filme em sua língua original, o inglês, com legendas em português, deixando-se afetar, “percebendo o quanto a legenda em português causava ruído, conflitando com os glifos apresentados ao longo do filme, no cenário e nos títulos que dividiam os capítulos”;
  2. assistir novamente ao filme, porém com dublagem para a língua portuguesa e sem nenhuma legenda sobre a tela. Tomar nota de pontos para traçar as linhas de fuga do estudo;
  3. terceira espectação, “menos atenta ao todo e mais dedicada a algumas partes, desta vez em língua original e sem alguma legenda”;
  4. passar todo o filme na tela do computador, “fotografando” as telas que deveriam servir como referências para o estudo de caso.

“O movimento entre os atuais e suas virtualidades acontece durante todo o filme, reforçado pela potência inerente ao glifo. Os glifos são desmagicizantes, mas viram superfície  quando colocados na tela, e acabam por produzir nova magia. Em cada glifo de Dogville notou-se a coalescência como perspectiva, o que justifica que se diga que as letras agenciaram todos os tempos do filme”.

(RADAELLI, 2012, p. 114).

O pesquisador, cuidadoso ao inventar a sua própria tecnometodologia, a resume na conclusão do trabalho:

Fonte: (RADAELLI, 2012, p. 118).

Texto: Aline Corso

Revisão: Ananda Zambi

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