A pesquisa em desenvolvimento “SISTEMAS DE RECOMENDAÇÃO DA NETFLIX COMO INTERFACE CULTURAL”, de Jader Fontoura de Moraes, é vinculada ao grupo de pesquisa TCAv (Audiovisualidades e Tecnocultura: comunicação, memória e design), e teve sua qualificação realizada ontem, dia 17 de agosto, às 16h, na modalidade online. A banca foi composta por Gustavo Daudt Fischer (Orientador), André Fagundes Pase (PUCRS) e Tiago Ricciardi Correa Lopes (UNISINOS).
Questionamentos iniciais e motivação da pesquisa
Moraes relatou em sua apresentação, que a pesquisa partiu do seu interesse em questionar a apresentação dos gêneros cinematográficos e televisivos dentro de uma plataforma de VOD, que é regida por algoritmos, buscando uma desnaturalização da recomendação algoritmia e compreensão sobre o que era invisível na interface gráfica.
Seu problema, bergsoniano, busca responder como os sistemas de recomendações se atualizam na interface gráfica da Netflix?
Nesse sentido, objetiva compreender as percepções algorítmicas do comportamento humano, traçando uma noção imagética da estratégia dos sistemas de recomendação, através da relação usuário-interface.
Discussão teórica
Para isso, busca fundamentar teoricamente a pesquisa a partir das perspectivas do TCAv de tecnocultura e audiovisualidades, das formulações sobre novas mídias, a partir de Manovich, e dos estudos de software, da autora Wendy Chun.
Ao tratar das interfaces, o discente também compreende não ser possível separar o que é conteúdo e o que é interface, e que esta “reaproveita” as tecnologias anteriores com as quais usuários já estão familiarizados. Para discutir esse aspecto, ele traz a perspectiva de Johnson, da janela como metáfora para a interface: ela permite visualizar os dados de um computador, mas ao mesmo tempo limita o acesso a todo o panorama, tal qual uma janela que recorta a visibilidade da paisagem.
Ainda, aproxima as discussões do âmbito da comunicação aos conceitos de ciências da computação por meio de Gillsepie, traçando paralelos entre as proposições do autor sobre produção de públicos e objetividade algorítmica, com os conceitos de identidade pré-determinadas de Manovich e de prazer causal, de Chun, respectivamente.
Proposição e movimentos de pré-análise
No estágio de qualificação da pesquisa, Moraes propôs o arranjo entre arqueologia das mídias, imagens dialéticas e constelações de sentidos. Com o arranjo, pretende dar a ver os critérios de recomendação da plataforma, manifestados em sua interface gráfica.
Seu procedimentos até o momento englobam a realização de uma coleção de capturas de tela. Atualmente, conta com 750 capturas de tela realizadas, registrando as mudanças na interface a cada conteúdo assistido por ele.
Para observar essas mudanças, ele procedeu com a criação de 2 perfis “zerados” da Netflix, o que permitiu observar as mutações de recomendações na interface. Entretanto, após sua pré-análise, constatou a necessidade de observar as recomendações segundo critérios que não havia previsto inicialmente, o que deverá influenciar as próximas etapas da pesquisa.
Dentre as descobertas feitas até o momento, também encontra uma noção alterada de comunidade, devido aquilo que está recomendado na interface da plataforma. Isso porque a Netflix utiliza recomendações pelo critério de localização geográfica, e Moraes observou que tais recomendações não são iguais para pessoas na mesma localização. Ilustra a questão com o top 10 brasileiro que, para diferentes usuários, exibe diferentes conteúdos em primeiro lugar, por exemplo.
Preparação e perspectivas pós-branca
Para se preparar, Jader Moraes preparou sua apresentação e fez ensaios acompanhados de amigos. A partir disso, anotou as considerações dos colegas e fez outros ensaios sozinho, cronometrando o tempo. Isso ajudou a priorizar as informações e enfatizar aquilo que sentia mais necessidade de retorno ou atenção da banca.
Para a defesa final, espera estar ainda melhor preparado, e contatar alguns autores que está lendo e trabalhando na pesquisa, a fim de chamá-los para a banca. Afinal, assim como na qualificação pôde contar com uma perspectiva externa, acredita ser importante multiplicá-las para dialogar científicamente.
Texto: Juliana Koetz
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