Integrando a série de matérias sobre os egressos do TCAv, cujo objetivo é criar uma memória dos membros e as respectivas pesquisas que fizeram parte da trajetória do grupo, o convidado dessa semana é William Mayer.
Doutorando em Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos na linha Mídias e Processos Audiovisuais entre 2015 e 2019 sob orientação da Profa. Dra. Suzana Kilpp, ministrou durante dois anos um curso de extensão em Produção para Cinema e TV na UNISINOS, além de ter experiência como produtor, roteirista, redator e diretor. Atualmente reside em Lisboa.
Sobre a tese
Tendo realizado tanto seu mestrado quanto doutorado na UNISINOS, segundo William suas pesquisas se conectam de alguma forma, uma vez que ambas procuram compreender como as novas mídias e tecnologias estão permeadas por arqueologias de outras mídias, ao mesmo tempo que produzem audiovisualidades muito contemporâneas.
Sua tese de doutorado intitulada Audiovisualidades e Construtos de Movimento nas Imagens e Imagéités do Facebook destaca como a tecnocultura emerge nas redes sociais e produz ações comunicacionais próprias deste meio. Com isso, diferente da televisão, do cinema e de outros meios de comunicação anteriores os quais produziam uma comunicação com essência unilateral, o Facebook permite que a informação circule de “muitos para muitos”, de “muitos para um” e de “um para um”, e também entre o próprio usuário e a rede social. A partir desta prática, percebe-se um movimento de inserção das audiovisualidades na cultura, derivada da importância crescente do design e funcionalidade em seu devir.
“Em grande parte, essa ‘plurilateralidade’ se deve a uma outra questão que também é própria do Facebook: o modo como a rede social produz construtos de movimento. E foi este o conceito norteador que me permitiu imaginar o Facebook como uma plataforma ‘audio-visual’ que reproduz imagens e imagéités de outras mídias, criando uma experiência própria das audiovisualidades, uma experiência em fluxo.”
O data stream (fluxo de dados) de Manovich (2012) foi essencial na construção do que ele chama em sua tese de ‘redes sociais’, mostrando que o Facebook, diferente do cinema, já não opera mais através dos bancos de dados, dando espaço a uma nova forma de experimentar o movimento: através do fluxo de dados.
Partindo do movimento presente na troca de informações simultâneas entre duas partes conectadas, a tese propõe uma atualização do conceito de imagem-movimento de Deleuze (1983), “[…] imaginando novas imagens e imagéités das redes sociais, mas que são também, de alguma maneira, resquícios de imagens e imagéités de outros meios de comunicação.”
A visão do pesquisador
“O TCAv e a Unisinos foram extremamente importantes na minha formação. Entre 2005 e 2019 eu passei praticamente quase todos os anos envolvido com a Universidade. O TCAv me ajudou a crescer como profissional, como pessoa, como educador. Em grande parte, meus orientadores – o Professor Dr. Gustavo Fischer e a Professora Dra. Suzana Kilpp – foram os maiores responsáveis por esse crescimento. O TCAv tem uma metodologia muito particular que permite que possamos evoluir enquanto grupo de pesquisa.”
O impacto social da pesquisa
Para William, é curioso que após a conclusão de seu doutorado, o Brasil e o mundo estejam atravessando um momento que de alguma maneira é resultado desta audiovisualização da cultura e das redes sociais, onde a circulação de informação predominante deriva da descrença da ciência e da fundamentação de conhecimento em imagens e textos falsos.
“A comunicação nas redes sociais se tornou a câmera cinematográfica de ‘Leni’ Riefenstahl, cineasta alemã, representante dos ideais da estética nazista. E o chamado ‘Gabinete do ódio’ tornou-se o centro de propaganda do país. Vivemos numa espécie de distopia à lá ‘1984’ do Orwell.”
Atualmente William não arrisca fazer planos muito distantes. Residindo em Lisboa, comenta que durante a pandemia foi aceito para um pós doutorado em Humanidades Digitais, falando sobre Ambiências Artísticas em Projetos de Arte Digital Durante a Quarentena do COVID-19. Entretanto, aguarda um momento mais propício para dar continuidade ao projeto.
O projeto busca, a partir da quarentena ocorrida em 2020 por conta da pandemia do COVID-19, realizar um levantamento dos materiais artísticos produzidos durante o período de janeiro e junho de 2020, tentando criar uma catalogação de objetos produzidos e uma observação sobre como as artes digitais podem criar novos dispositivos. A intenção é produzir, a partir do conceito de Imagem de Bergson, uma Imagem Artística da Quarentena, realizando através da tétrade de McLuhan uma descrição dos modos como foram produzidos os conteúdos, explorando para além das figuras e dos fundos dos objetos, o intervalo ressonante destes materiais.
Texto: William Mayer e Julia Souza.
Revisão: Roberta Krause
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