Bruno Polidoro é premiado por filme com David Lynch

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Diretor diz que grupo de pesquisa lhe deu nova compreensão sobre a potência da fotografia

Entre a cinematografia gaúcha produzida em 2010, um curta chamou a atenção da crítica nacional e internacional. Trata-se do filme Peixe Vermelho, produção independente dirigida por Andreia Vigo, com direção de fotografia de Bruno Polidoro, um dos parceiros do novo Grupo de Pesquisa em Audiovisualidades e Tecnocultura.

O filme tem como referência o cineasta norte-americano David Lynch que esteve em Porto Alegre por ocasião de sua conferência no Fronteiras do Pensamento, em agosto de 2008. Além da obra estar atravessada pela estética surrealista de Lynch, ele próprio tem um protagonismo ambíguo no filme, fazendo mais de um personagem. A obra ganhou 4 prêmios no 38º Festival de Cinema de Gramado:? Melhor Produtor/Produção Executiva, Melhor Fotografia, Melhor Edição de Som e Melhor Música e ganhou o prêmio Especial do Júri no 2º Annual Lady Filmmakers Film Festival em Los Angeles. Recentemente, o filme ganhou Menção Honrosa no 17º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá.

Formado em realização Audiovisual, Bruno Polidoro fez Mestrado em Comunicação na Unisinos, na Linha Mídias e Processos Audiovisuais, orientado pela professora Suzana Kilpp, com a dissertação “Sobre a Luz e as potências do escuro na fotografia. Imagens técnicas de alcova no cinema”. Com ele conversamos brevemente sobre o sucesso de Peixe Vermelho e a contribuição que o mestrado lhe trouxe para a realização profissional. O filme será exibido no Santander Cultural em janeiro e fevereiro de 2011.

Como foi a experiência de ser tão premiado pelo teu trabalho em Peixe Vermelho?

Acredito que o Peixe Vermelho seja um filme não muito usual em nossa cinematografia local. Ele brinca com a desconstrução narrativa, e a produção de imagens sensoriais mais do que descritivas. Assim, construímos um filme de grande liberdade criadora, mas com um trabalho técnico rígido, com amplos estudos e pré-produção. As imagens pulsam, ofuscam e instigam os olhos. Os prêmios, dessa forma, são consequência desses efeitos que, felizmente, parecem estar atingindo uma parte do público.

Qual é o principal mérito da obra?

O mais deu certo no filme foi essa conjunção entre liberdade criadora e planejamento na realização. Durante as reuniões conceituais, o roteiro era extrapolado, gerando novas situações, personagens e locações. A partir do momento em que começou-se a realizar a obra, passamos a seguir os estudos realizados anteriormente, gravando o filme de maneira sistemática. Essa organização permitiu, ainda, um sopro de intuições no momento da gravação, fazendo com que algumas coisas fossem mudadas na estrutura, a partir do afeto com os personagens, meio e equipe.

Em que sentido a experiência do mestrado na Unisinos e tua participação no Grupo de pesquisa em Audiovisualidades (GPAv) contribuiu para crescer profissionalmente?

Essa pergunta me faço seguidamente. Depois de muita reflexão, acho que posso apontar o que mais me toca quando penso sobre isso. Tecnicamente o mestrado na Unisinos não contribui diretamente para o meu trabalho como Diretor de Fotografia, pois não me trouxe novos domínios de câmera, refletores e coisas assim, com as quais tenho de lidar quase todo dia. No entanto, é imensurável a amplitude de conceitos e ideias gerados pelo mestrado, que me permitiram mudar e questionar a todo momento o meu olhar. Uma imagem vista nunca mais foi tratada da mesma forma por mim, depois de dois anos debruçado sobre as imagens das minhas alcovas. Assim, também, nunca mais consegui produzir uma imagem de maneira solta, sem um forte olhar crítico sobre ela. Crítico tanto estético, como social, pensando em Flusser.

Assim, com uma densidade conceitual sobre a imagem muito maior do que a que eu tinha antes do GPAv, consegui me “soltar” mais em meu trabalho. Comecei a arriscar mais, pois tinha capacidade conceitual para defender as propostas talvez “menos clássicas”. E isso se refletiu diretamente na técnica, fazendo com que eu criasse imagens mais livres, com mais pretos, sem medo dos claros extremos. E, se tivesse de responder em uma frase só, eu diria que a maior contribuição para meu trabalho como Diretor de fotografia foi a da compreensão da potência do escuro como sombra. Ah, a sombra, o medo mais corriqueiro dos fotógrafos com seus corpos encarcerados pelos ambientes e refletores.

Além de Peixe Vermelho, nos últimos dois anos, Bruno Polidoro foi diretor de fotografia dos filmes:

Um animal menor dirigido por Marcos Contreras e Pedro Harres,? recebeu o? Prêmio júri oficial de melhor fotografia no FAM 2010 (Festival Audiovisual Mercosul), o? prêmio de melhor fotografia na Mostra Gaúcha do Festival de Gramado 2010 e o prêmio de melhor fotografia no Festival dos Sertões 2010.

O sabiá dirigido por Zeca Brito, para Histórias Curtas, da RBSTV, que levou a Melhor Fotografia no Prêmio Histórias Curtas 2010.

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Enciclopédia, dirigido por Bruno Barreto que levou o prêmio de melhor fotografia no 33º Festival de Guarnicê