Dá-se início hoje a 15ª edição da Primavera dos Museus, evento nacional promovido pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) com a temática “Museus, perdas e recomeços”. Marcando presença na edição a nível local, o grupo TCAv, em parceria com o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, realizará a primeira de uma série de lives a serem realizadas a partir desta parceria, intitulada “Repensando a comunicação como museu e o museu como memória da comunicação”. Tendo participação na transmissão o museólogo e diretor do Museu da Comunicação Wellington Silva, o Prof. Dr. Gustavo Daudt Fischer, e a Profa. Dra. Sonia Montaño, com mediação da Profa. Dra. Cybeli Moraes, a Profa. Sonia e a Profa. Cybeli comentaram mais sobre a parceria.
Como surgiu a ideia da parceria entre TCAv e Museu de Comunicação? Quais as afinidades que se apresentam entre ambos?
Sônia: A parceria com o museu da Comunicação José Hipólito da Costa surge num momento importante em que o museu está passando por uma série de transformações tanto materiais quanto digitais e de busca de parcerias e nós, o TCAv e a Unisinos como um todo, em busca de formas de expressão de uma universidade extra-muros. A questão da memória na comunicação e a memória da comunicação é muito cara para nosso grupo de pesquisa desde os primórdios, inclusive com as tentativas da colega Suzana Kilpp, pensar um museu de comunicação dentro da própria universidade, mas sobretudo, com os modos como foi se construindo o conceito de memória dentro da reflexão do TCAv.
Cybeli: Falando a respeito da relevância da Agência Experimental de Comunicação estar nesse projeto, além de já sermos parceiros e ter como clientes o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Unisinos, é muito importante para a Agência ter parcerias como a do Museu de Comunicação, e estar junto com órgãos governamentais, ONGs, e parceiros da própria universidade, para auxiliar e impactar na formação dos alunos da Indústria Criativa e da Agexcom. Nada mais lógico do que estarmos juntos, prestando serviços e trabalhando juntos na construção de ideias que façam essa ponte entre pesquisa, pós-graduação e graduação, como também com órgãos da cultura.
Qual seria sua perspectiva na fala sobre “repensando a comunicação como museu e o museu como memória da comunicação”? Que podemos esperar dessa parceria em ações futuras?
Sônia: A minha abordagem ao pensar “a comunicação como museu e o museu como memória da comunicação” irá muito na perspectiva do que trabalhamos na pesquisa do Laboratório de Audiovisual em Rede (LAR/TCAv) junto com os bolsistas de Iniciação Científica e alguns dos meus orientandos de mestrado e doutorado: as memórias programadas na tecnocultura contemporânea que emergem na dinâmica de audiovisualização da cultura. Formas visuais e sonoras que estão presentes em museus (uma forma de memória) atravessam nossos imaginários e práticas cotidianas. Como poderia ser pensada a memória da Comunicação no RS na perspectiva dessa audiovisualização da cultura em que todas nossas práticas, nossas casas, nossas cidades estão atravessadas por imagens e sons? Como um museu (seja dentro ou fora dele próprio) pode se tornar um espaço de multiplicar nossa experiência e significação da comunicação e do tempo? Tentarei pensar sobre essas questões.
Cybeli: Acho que tem a ver com observarmos atentamente essas duas palavras chave: comunicação e museu. Muitas vezes temos uma visão linearizada de ambos os termos e não enxergamos os dois como processos de metamorfose constante e de transformação não necessariamente territorializados. Entendemos a comunicação como algo que é realizado em função de tecnologias ou a partir de conteúdos específicos. Entendemos o museu como esse espaço fixo de “guarda”, de coisas que já passaram. Então é preciso repensar esses dois termos no âmbito do nosso próprio grupo de pesquisa, tendo em vista o conceitos de memória que trabalhamos e é fundamental para esse processo. Se o compreendermos não como algo que está no passado, mas sim que vive em constante devir, isso nos mostra que a linearidade entre o presente, passado e futuro é uma falsa perspectiva diante de todas as abordagens tecnológicas que temos hoje, diante das tendências que transitam, e diante também de uma série de repertórios conceituais que trabalhamos.
Então, o que se pode esperar dessa parceria em ações futuras, pensando como Agência Experimental, é justamente colocar os estudantes em contato com esse tipo de noção e convidá-los a refletir a respeito de tais questões, criando ações e projetos que estejam de acordo com esses entendimentos. Temos na Agexcom um apreço por guardar objetos que muitas vezes os estudantes consideram curiosos, que entendem como algo que já passou, algo antigo que não tem mais uso. No entanto, são objetos de grande potência e se atualizam aos nossos olhos vistos em outros objetos e em outras tendências que utilizamos hoje. Observar esses processos comunicacionais e também museológicos – pensando arqueologicamente – é um desafio grande, mas muito produtivo; e é o que esperamos produzir junto aos alunos, ao TCAv e ao museu com essa parceria.
Como está sendo pensada a inserção dos alunos da graduação e sua formação na disciplina Tecnologias, imaginários e estéticas nessa parceria com o museu?
Sônia: A disciplina de Tecnologias, imaginários e estéticas integra o currículo de vários cursos, de comunicação e outras áreas (Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Fonográfica, Realização Audiovisual, etc). O objetivo é integrar na formação dos profissionais um espaço de pensar em aqueles dispositivos que usamos diariamente, nossos contatos com aplicativos, sites, vídeos, games e todas as tecnologias que temos a disposição atualmente com suas estéticas e práticas são memórias e produzem memórias, marcam nossa experiência cultural e dinamizam imaginários (capacidade de produzir e entender imagens). A disciplina busca formar um pensamento crítico e poder ir além de usuários das tecnologias e mídias contemporâneas, poder refletir sobre o modo como elas operam na cultura contemporânea. Nesse sentido, participar da Primavera dos Museus, poder conhecer mais do Museu da Comunicação do RS e pensar como ele encerra memórias que atravessam as nossas próprias e as compreensões que temos sobre o tempo, será muito rico.
Cybeli: Bom, a Agência Experimental de Comunicação é formada por alunos do curso de graduação em Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Produção Fonográfica, Realização Audiovisual, Comunicação Digital, Design, Computação Aplicada, e bacharelado interdisciplinar na área de Humanidades, Artes e Tecnologias, que é um curso também que pouca gente conhece. Então ao falar em estudantes da graduação, mais especificamente da disciplina Tecnologias, imaginários e estéticas, eu acho que vai no mesmo sentido da questão anterior: olhar com atenção essas palavras que são grandes guarda-chuvas de uma série de reflexões as quais muitas vezes são compreendidas na sua superfície, e não a partir de suas origens e situações atuais da vida cotidiana.
Muitas vezes nos surpreendemos como pensar separadamente a respeito do termo “tecnologia”, “imaginários” e “estética” é proveitoso, desafiador e complexo, uma vez que são palavras que aparentam tanta simplicidade, mas estando presentes ao longo da nossa vida, não paramos para refletir a respeito do que elas realizam, especialmente quando estão em conjunto. O que eu costumo fazer nessa atividade acadêmica é provocar nos alunos a necessidade do desenvolvimento de uma atitude estética que vai auxiliar e potencializar a criação de imaginários a qual nos auxilia a compreender e a utilizar essas tecnologias de maneira a torná-las cada vez mais potentes para a própria humanidade e para a própria vida. Falando dessa forma parece que estamos lidando com um aspecto linear de causa e efeito, mas trata-se de uma circularidade que precisa ser construída por cada um de nós.
Então, acho que essa inserção dos alunos da graduação e sua formação na disciplina tem muito a ver com o engajamento do estudante diante desse desafio: estar em constante reflexão e alerta diante das coisas que ele próprio inventa. Sempre provoco os alunos dizendo que eles são comunicadores, independente do curso em que eles estão, porque mesmo não estando diretamente conectados a cursos de comunicação, ainda assim eles precisam se manter alertas, fazendo de seus corpos uma interface que esteja aberta e receptiva a todas essas produções, manifestações, que são possibilitadas pelas tecnologias, pelos imaginários e pelas estéticas. Logo, essa dinâmica é importante nesse processo de (re)montagem constante, onde precisamos aprender a realizar e tornar um hábito para compreender melhor as nossas produções na Escola de Indústria Criativa.
A live será transmitida no canal do Youtube do Portal Mescla dia 22 de setembro (quarta-feira), às 19:30.
Texto: Julia Souza
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